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domingo, 31 de outubro de 2010

Coisas boas do Outono

"Abre a romã, mostrando a rubicunda
Cor, com que tu, rubi, teu preço perdes"
Camões, Os Lusíadas

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A vida a andar para trás

É o que afirma Jerónimo de Sousa. Seria bom se fosse verdade. Viver outra vez os bons momentos, emendar tanta asneira que tenho feito ao longo da vida, reencontrar os entes queridos já falecidos, dizer-lhes as palavras que calei por orgulho, por timidez, e que os teriam feito mais felizes, fazer no tempo certo aquilo que não ousei, olhar para as coisas com o olhar maravilhado da infância... Ah, camarada Jerónimo, se tivesse razão até votaria em si, até faria campanha por si!
Mas olhe que, para si, a vida a andar para trás seria também coisa boa: imagine-se novamente nesse tempo em que se acreditava que os amanhãs cantariam, a Internacional seria o género humano...
E que bênção para o povo português, que os tempos que se avizinham, pode crê-lo, vão ser bem piores do que aqueles que vivemos nos últimos 20 anos.

sábado, 30 de outubro de 2010

Pragas

Há uns anos, muitos as criaram por graça. Umas lograram fugir, outras foram soltas pelos proprietários quando delas se fartaram. E elas, as rolas mansas, cresceram e multiplicaram-se. Ainda não enchem toda a Terra, mas esforçam-se para o conseguir. Escapam aos caçadores por viverem junto às casas. Acordam-me alta madrugada com o seu arrulhar horrível, devastam os quintais, sujam os telhados.
Mas, com o agravar da crise, podem até vir a ser uma bênção e compensar os brócolos comidos acompanhando grelhadas  os que pouparam.
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sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Casamento orçamental

Eu não disse que a comédia acabava depressa? E em casamento, como pertence? Que as comadres casamenteiras seriam Cavaco Silva e a senhora Merckel (que pouco tem de senhora, feia de fugir)? Concedo: o papa ainda não abençoou a união. Por agora, bastará um cardeal português.
Pois podem fixar o que eu digo neste dia de invernia: é Sol de pouca dura. A tranquilidade dos mercados que esta "responsabilidade" tão badalada vai gerar desaparecerá muito em breve. E então será bem pior. Por isso preferia que se varressem já trastes e cacos...
(Circunda-te de rosas, ama, bebe  /     E cala. O mais é nada. )

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Presidenciais

Monsieur le Président
Que vas-tu faire?
-- Rien, rien, rien...
(Reconstruída de memória)

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Crises

Vivi, embora fosse demasiado criança para com ela me preocupar, a crise dos mísseis em Cuba -- e o Mundo esteve prestes a acabar; o 25 de Abril; o 11 de Março na tropa; o 25 de Novembro -- ainda estava na tropa; a morte de Sá Carneiro em Camarate; aquela crise sem nome em que o chanceler alemão voou para a América tentar meter juízo na cabeça de um banana de um presidente com cara e conversa de vendedor de carros usados que não valia a pena começar uma guerra com a União Soviética por causa da invasão do Afeganistão; apanhei com os governos de Mário Sares, o FMI -- e não recebi então 1/3 do subsídio de Natal, com que esperava comprar roupa para a minha filha e uns sapatos para mim, que os buracos na sola eram incomodativos em dias de chuva...
Há hoje um arrufo de namorados entre PS e PSD? Quem quer apostar que em breve estarão agarradinhos a dançar o tango, sob o olhar embevecido de comadre casamenteira -- Cavaco, Merckel, o papa, se necessário for...
Que, por mim, preferia partir a loiça, e com uma vassoira, à antiga, varrer trastes e cacos.

domingo, 24 de outubro de 2010

A arte de fazer pão

Transmitida de avô a neto.

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sábado, 23 de outubro de 2010

Três rapazes

E uma sala virada do avesso.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Blogue em destaque

Informa-me o SAPO de que o meu blogue está em destaque. Muito me honra essa distinção, que me levará, paulatinamente, a transmudar a réplica em original. Muito obrigado!

(Clicar na imagem para ampliar).

domingo, 17 de outubro de 2010

Onde a terra se acaba


"onde a terra se acaba e o Mar começa
e onde Febo repousa no Oceano."
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quinta-feira, 14 de outubro de 2010

A Via não tem limites

Já perdi o conto às fornadas de novos alunos a quem iniciei na arte do Karaté. Muitos, muitos, treinaram com afinco até à conclusão do Secundário. Fica-me o consolo de terem partido muito mais fortes e confiantes do que quando chegaram até mim. E é com enorme prazer que os revejo, completamente mudados, dez, vinte, trinta anos depois, a lamentar que as exigências da vida lhes não permitam voltar aos nossos treinos, a recordar com saudade esse tempo em que transpirámos, sofremos e nos divertimos juntos. E é com prazer que os oiço falar dos seus sucessos e fracassos (a vida também é feita de derrotas). Outros, por vezes, fazem-me chegar a expressão pública da sua gratidão por terem descoberto comigo a Via do Karaté, agora que trilham os seus próprios caminhos, por rumos que raramente se cruzam com o meu.
Na foto (clicar para ampliar), o grupo de 2010, em constituição. Poucos ainda, desalinhados, torcidos, fraquinhos. Não importa. Aqueles que não desistirem estarão irreconhecíveis no final do ano lectivo. E daqui a meia dúzia de anos, quando também eles me deixarem, será talvez o momento de recomeçar novamente a partir do nada. Porque, dizem os antigos mestres, a Via não tem limites.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Do cavaquistão

NOTA PRÉVIA: este texto foi escrito em 1994, em pleno cavaquismo. Jamais pensei que os meus agoiros viessem a ser tão certeiros...

Destroçado pela derrota derramo minha amargura
Pelos caminhos deste país que já foi de vinho e mel
E a ela perdura, amarela e viscosa como fel,
Tingindo cada rosto, cada figura,
De lívida brancura

Já nada é como era dantes
e o cabelo que me vai faltando é apenas
breve indício do Inverno que se vem aproximando.
Mas o que me dói e não tem cura
neste entardecer azedo
é ver o país a adormecer cinzento
de indiferença e pasmo bafiento

Ninguém faz nada sem proveito.
Pelas auto-estradas que conduzem aos centros comerciais
telemóveis saúdam as novas catedrais
(Por aí fora, o abandono
Matas queimadas, hortas perdidas
peixes lançados ao mar
fábricas fechadas, reformas antecipadas
país de alheio dono
Desespero do desemprego, aldeias abandonadas
oh subsídio-servo-dependência!)

Não, nem orgulho ferido nem sonhos perdidos
agora já só o meu olhar camponês me magoa
como o mato à minha terra onde já nada é como dantes...
Chove no Verão, o Inverno aquece
E o nevoeiro não tece mistérios bastantes
outros que a miséria deste Portugal que esmorece

Só sei que de lado nenhum sairá a luz que rompe as trevas
porque já nem a noite é de breu
nem os dias resplandecem

Finis Patriae

Quando será nunca mais Primavera
Pelo menos um dia radioso
Que enfeite a atmosfera neste tempo tão chuvoso?

Ah, rapazes do meu tempo
Ah, mocidade da minha geração
Uma fogueira no peito
Uma laranja em cada mão
Esqueçamos o tempo já passado
Vamos apanhar gelo
Vamos colorir o coração

(Nasçam malmequeres
Cresça a couve
que se sache e se monde
que se colha e se coma)

Lá, onde corre a fresca regueira
onde nasce o agrião
Enchamos o cinzento de laranjas
uma no céu, uma em cada mão

O sino dobra novamente a finados...


( "versos" finais de Entre Cós e Alpedriz; título roubado a Guerra Junqueiro)

sábado, 9 de outubro de 2010

Ui, que medo!

Informa o Ionline, sem esclarecer se é promessa, se é ameaça, que "[A] queda do governo está iminente. O chumbo do PSD ao Orçamento do Estado levará Sócrates a Belém para pedir ao Presidente que arranje outro primeiro-ministro".
Acorramos todos em massa a Fátima, a São Bento, aonde for preciso, suplicar ao nosso primeiro que reconsidere: como poderemos viver sem ele? Que será da pátria sem tão esclarecido timoneiro? E da Europa, ainda tão frágil, e do Mundo, sempre tão conturbado? E das universidades americanas, sem as suas doutas conferências? Ah, não pode ser, é invenção! Ninguém nos privará deste Afonso Henriques, deste João Segundo do século XXI!
Jamais permitiremos que tenha razão o Brecht: se este homem insubstituível ressuscitasse ao oitavo dia, / não acharia em todo o Império uma vaga de porteiro.
(É que qualquer profissão exige experiência profissional, humildade, qualificações...)

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Crime na capital

O conto Crime na Capital, vencedor da IIIª ed. do Prémio Literário Irene Lisboa  na modalidade conto, pode ser descarregado para leitura no meu site. Basta clicar no respectivo separador, menu de topo. Ao lado, e também disponíveis para leitura, a minha dissertação de mestrado e os romances Do lacrau e da sua picada e Entre Cós e Alpedriz. Trata-se de versões em pdf, rigorosamente idênticas aos exemplares impressos, o que explica as páginas iniciais em branco.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Colesterol

O Vergílio e eu, após sábado de trabalho duro a fazer o vinho. Merenda no regresso, na Tasca da Tia Maria aqui, junto a Porto de Mós): queijo curado, morcela e farinheira grelhadas, sopa de feijão a compor. Tinto da casa, traçado.

domingo, 3 de outubro de 2010

Outono de seu riso magoado*

Crescem as noites, arrefecem os dias, alongam-se as sombras, até há pouco exíguas, verticais, duras – eis que difusas se confundem com natureza, casas, objectos, pessoas, e a lucidez que sempre nos faltou não alcança destrinçar nessa penumbra a realidade fugidia.
Não é só o Portugal tristonho a definhar, não; é todo um mundo de aparências, de quimeras, créditos, promessas plásticas de juventude eterna, vidas de sonho decalcadas de revistas de cabeleireira... Sabemos hoje (sabê-lo-emos?), que a riqueza era virtual como o dinheiro, como o crédito bancário,  e vemos as prometidas vidas de sonho esvanecerem-se para todo o sempre como sombras que jamais conseguiremos alcançar, ora fugindo à nossa frente se as perseguimos, ora a  seguirem-nos trocistas se lhes viramos as costas. Para nosso desgosto e revolta, espera-nos,  sarcástica, a frugalidade austera dos nossos pais e avós...

(*  verso de Camilo Pessanha)