Que oculta o belíssimo anúncio de outros tempos, quando havia agricultura, que dava de comer a milhões de portugueses e servia de retaguarda segura nos momentos difíceis, como aquele que atravessamos.
Os emigrados nas cidades enchiam os carros nas casas paternas em cada fim-de-semana --- azeite e azeitonas, vinho e aguardente, hortaliças, cebolas, alhos, fruta, as abençoadas batatas, remédio contra a fome, os ovos e as galinhas já arranjadas, os coelhos, o porco, eu sei lá que mais! E partiam, carregadinhos até ao tejadilho, as rodas bojudas do excesso de carga, por entre protestos do motor e golfadas de fumo negro...
Tudo isso acabou. Os mais velhos arrastam-se inúteis pelos bancos dos adros das igrejas, pelas colectividades, sem vontade sequer de espairecer plantando couves porque, há décadas que o sabemos, "não compensa". As colheitas fazem-se no hipermercado. Mas, como canta Manuel Alegre, "há sempre alguém que resiste / há sempre alguém que diz não." Como eu, que tirei a foto quando seguia para a minha aldeia, aproveitando este sábado de bom tempo para a poda.
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