Tinha dez anos, frequentava o Ciclo Preparatório. Era meu professor de Trabalhos Manuais mestre Cristóvão, um homenzarrão, velho dos seus trinta anos.
Ora numa das suas aulas deu-me uma terrível vontade de urinar e contorcia-me na carteira sem ousar pedir ao mestre para ir às sanitárias, indeciso entre o falar grosseiro próprio das minhas origens camponesas e a linguagem efeminada da vila. Mas a necessidade, imperiosa, género ou vou já ou faço aqui, obrigou-me a vencer a vergonha:
– Senhor mestre, posso ir lá fora?, atrevi-me timidamente.
O homenzarrão encarou-me: – E o que vais tu fazer lá fora?
– Chichi, balbuciei, olhos baixos.
– Queres ir fazer o quê?
A turma ria a bandeiras despregadas. Da minha atrapalhação, e por eu falar como uma menina.
Já não aguentava mais.
– Mijar, sussurrei, certamente corado como dióspiro maduro.
– O quê? Fala mais alto, que não te ouço!
– Quero ir mijar, senhor mestre!
– Vai lá então, mas não te demores.
Fui. E nunca mais fiz chichi na vida.
Foto: talvez dois anos mais tarde, a mesma turma.