Doze anos após o ter escrito, (auto) publiquei o romance Gheke Pepe e está à venda, em papel e ebook, na Amazon Espanha.
Segue-se apreciação do Professor Fernando Venâncio, conhecido escritor, crítico literário e linguista que amavelmente aceitou receber um exemplar e pronunciar-se sobre a obra.
“ A NAMORADA JUDIA
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José Cipriano Catarino é autor de vários romances, que lhe valeram alguns prémios literários. É nítido o seu domínio da arte de contar e o da expressão.
Este seu último livro, “Gheke Pepe”, vive dum cenário medieval português, levando-nos ao conturbado país de finais da primeira dinastia e pormenorizando-nos a batalha de Aljubarrota, de 1385, com que haveria de mudar quase tudo neste irrequieto Portugal.
É aqui protagonista um jovem da nobreza pobre da província, que demanda Lisboa em busca de aventura e sobrevivência. O sangue azul garante-lhe tratamento por “vós”, mas não lhe mata a fome, que é muita. O irmão mais velho (e, à época, cabia-lhe a ele toda a herança) bandeia-se com o rei de Castela e é inimigo da própria pátria. Um primo do moço ajuda a aparar o pior, ensinando-lhe a fuga de ceias e alojamentos quando não se traz um tuste no bolso.
O pobre fidalgo vê-se, assim, atirado para os prazeres mais rascas e, como se tal não bastasse, é acutilado por dúvidas sobre a própria orientação sexual. As coisas hão-de esclarecer-se, mas, ai, o destino é cego e avaro. O moço vê frustrada qualquer tentativa de existência mais folgada, sendo seu único consolo o amor de uma judia, que lhe saíra ao caminho naquela Lisboa faminta, cercada pelo rei castelhano.
O ambiente medieval do romance é altamente credível. José Cipriano Catarino documentou-se a preceito, e recorre mesmo à exacta letra de Fernão Lopes. Sabemos que o historiador tomava descaradamente partido pelos novos senhores do Reino, mas só picuinhas morais se incomodarão ainda hoje com isso.
O enigmático “Gheke Pepe” era o dístico do estandarte improvisado em Aljubarrota para o pelotãozinho do nosso juvenil fidalgo. Terá a ver com o divertido subtítulo: «Bebiam mais do que falavam».