Deus existe? (Comentário a um post alheio)
Há dois problemas que condicionam tanto as perguntas como as respostas: (1) a linguagem que formula as primeiras e enforma as segundas e (2) os nossos cérebros de primatas, que percepcionam o Cosmos a partir de sentidos que não evoluíram para o compreender, mas para sobreviver nas savanas africanas.
Pensamos com palavras e, como notou Saussure, o pai da linguística, sem elas talvez nem exista pensamento estruturado, ou, pelo menos, pensamento abstracto; mas, todos sabemos, as palavras e a lógica que com elas se constrói não são necessariamente conformes à realidade observada (e.g., o Sol nasce de manhã) e não são seguramente adequadas para formular questões metafísicas: que é Deus? Se falamos do Jeová bíblico não será difícil negar o seu papel criador, mas se a hipótese de muitiversos nos parecer pouco elegante haverá que procurar hipóteses explicativas para o facto - assombroso - da perfeita afinação das leis físicas.
A nossa capacidade de conhecer o Cosmos parece ser, também, limitada pela nossa estrutura cerebral, se assim posso dizer: até ao momento, e com toda a nossa tecnologia, conhecemos apenas 5% do Universo; aos 95 % em falta, chamamos energia e matéria escuras. E não fazemos ideia -eu não faço - do que seja o Espaço ou o Tempo, nem se a luz é corpuscular ou ondulatória, etc.
A pergunta Deus existe? pode nem sequer fazer sentido. Nada obriga a que o signo tenha correspondente (o referente saussurreano) e nada garante que, no estado actual da ciência, se surgissem possíveis respostas tivessem significado compreensível para nós.
Deposito as esperanças nos avanços da ciência, com o receio de que as respostas não cheguem no meu tempo. Um contacto com civilização alienígena também poderia trazer alguma luz. Enquanto tal não sucede, sinto-me como a rã no fundo do poço. Da ignorância. Crente, agnóstico, ateu? Um pouco disso tudo, conforme o significado atribuído às palavras.