1. A escola, local de aprendizagem
Não me parece adequado pretender motivar os alunos para o trabalho ou atraí-los para grupos de discussão mediante actividades como "qual o teu clube de futebol preferido". Dessas, têm eles em abundância fora da escola, seja em blogs seja em newsgroups. Talvez nem valha a pena motivá-los para esse tipo de participação: motivados de mais estarão eles e o resultado dificilmente poderá ser educativo. Por outras palavras, a escola não deve (nem pode) concorrer com o pior que se passa fora dela; deve, pelo contrário, defendendo a qualidade, o bom-gosto, o saber e o trabalho, bater-se por valores e pela cultura. Que ganharemos em ter centenas de alunos escrevendo disparates sobre futebol e quejandos? Que vamos valorizar: um único bom contributo ou centenas de lugares-comuns? Qualidade e quantidade não costumam andar de braço dado.2. A escola, local de formação do cidadão
Se queremos formar cidadãos, temos que elevar o nível dos nossos alunos e não descer até ao deles; se o fizermos, falaremos todos a mesma linguagem, mas eles não poderão (a não ser que provenham de meios sociais já favorecidos) superar o fosso que os separa dos privilegiados. Para que a escola seja democrática, há que insistir na qualidade e não na vulgaridade; há que estimular os gostos dos alunos e não descer até ao gosto deles -- afinal, estão na escola para aprender; se fosse para ensinar, seriam pagos como professores.3. A escola, local de cultura
Não me pronuncio sobre a inutilidade da cultura; limito-me a constatar que os países mais ricos são aqueles em que é dada maior importância à cultura e a um certo tipo de conhecimento que, como diz um amigo meu, "não dá pão a ninguém". Inversamente, os países mais pobres e mais atrasados são aqueles que não apenas menos investem na cultura mas também aqueles que mais a perseguem. A cultura de rua só pode servir para a rua -- e creio que não é à rua que queremos condenar os nossos jovens. O grito dos Pink Floyd " Teacher, leave those kids alone" é óptimo para os filhos dos ricos. Como costumo responder, quando me perguntam por que é que um futuro mecânico deve estudar Os Lusíadas: para não precisar de ser mecânico toda a vida, se o não desejar.4. Que actividades implementar?
Recusando o fácil e o imediato, a vulgaridade e a berraria, tops e maiorias, defendo que são seguramente mais úteis, mesmo que interessem a muito menos alunos, discussões sobre livros e leituras, filmes, música de qualidade, divulgação científica. Os jovens precisam de tomar contacto com possíveis obras de referência para construirem bitolas válidas para avaliação dos produtos com que são bombardeados pelos media, para criarem os seus próprios padrões de qualidade e de exigência. Tal e qual como são ensinados a gostar ou, pelo menos, a aceitar a alimentação saudável.José Cipriano Catarino
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