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quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Consulta pública da revisão da Terminologia Linguística para os Ensinos Básico e Secundário (TLEBS)

Está disponível no site do Ministério da Educação uma nova versão da TLEBS. Apesar de não ter procedido ainda ao estudo aprofundado que a nova proposta exige – são 154 páginas! -- foi possível verificar, numa observação rápida, que foram corrigidas algumas das principais insuficiências da versão original da TLEBS, as quais deram azo à forte contestação pública que levou à sua suspensão no Ensino Básico. Assim, e a par de um trabalho de melhoramento da lógica interna da TLEBS, são objecto de reformulação as próprias Áreas, entendendo-se, por exemplo, que "a área da semântica lexical é, na verdade, um domínio de lexicologia", conclusão que não deixa de ser estranha, uma vez que a introdução desta área na versão aprovada em 2004 foi, seguramente, linguisticamente motivada.


Como principais aspectos positivos da versão agora submetida a discussão pública, há a salientar neste breve comentário a clarificação de classes de palavras como os quantificadores, desaparecendo a aberração chamada quantificador relativo; o enriquecimento da classe dos advérbios, registando-se, a par da subclasse advérbio(s?) de negação, a dos advérbios de afirmação, advérbios de inclusão e de exclusão, de quantidade e de grau (três subclasses ausentes da versão anterior), mas a confusão pode persistir, com a proposta das subclasses advérbios de predicado e advérbios de frase… Talvez fosse mais acertado manter as subclasses tradicionais, de natureza semântica (e.g., modo, tempo, dúvida, etc.) até haver consenso entre os linguistas quanto à natureza e às subclasses desta classe de palavras reconhecidamente heterogénea, que reúne elementos que, por vezes, pouco têm de comum.


O conceito de oração é reintroduzido porque, diz-se no documento, "a experiência pedagógica revelou que a tradição no uso de um termo constituía um factor de dificuldade face à adopção de um termo sinónimo. Exemplo: o termo oração na tipologia de frases complexas". Se se aplaude a reintrodução do termo, não se pode deixar de referir que, excepto em raros gramáticos, como, por exemplo, Soares Barbosa (1881), os dois termos não são sinónimos: frase, tal como ocorre na TLEBS (2004) é um objecto estritamente sintáctico e oração é tradicionalmente concebido como um objecto sintáctico-semântico.

De salientar também a substituição dos complementos adverbiais e preposicionais pelos complementos oblíquos, o abandono, na área da Semântica, de termos pouco naturais, como antonímia contrária, contraditória e conversa e – finalmente! – a coragem de pôr de lado a distinção nome concreto / nome abstracto, abandono que, certamente, não deixará de causar celeuma, apesar de a distinção não ter motivação linguística.

Muito em breve, com disponibilidade e paciência, que me faltam no momento presente, procederei a comentários mais específicos sobre a nova proposta, saudando desde já a sua submissão a discussão pública: receava que a TLEBS tivesse sido definitivamente abandonada. É que, apesar das suas insuficiências, algumas das quais aqui referidas no passado, reintroduziu a discussão gramatical nas escolas e, se por mais não fosse, só por isso teria a minha simpatia.


JCC


("Os pareceres sobre o documento que agora se coloca a consulta deverão ser enviados para revisaotlebs@dgidc.min-edu.pt, até ao dia 31 de Dezembro de 2007." )


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