A propósito do post anterior, o meu amigo Reinaldo chama-me conservador. E põe-me a reflectir. Porque desde a infância procuro saber quem sou, o que sou. Mas conservador?
Bom, como classificar homem casado com uma só mulher, há mais de quarenta anos, nestes tempos de casa e descasa? Que respeita a palavra dada, os compromissos assumidos? Que paga prontamente as dívidas? Que prefere, sem a menor dúvida, a comida tradicional portuguesa à de autor, gourmet e quejandos? Que usa lenços de pano, sempre calça peúgas debaixo das sapatilhas, a que não chama ténis, cumprimenta com aperto de mão clássico os amigos e preserva-os ao longo dos anos? Que dizer de um homem que, nos tempos que correm, põe, como sempre pôs, os valores acima dos interesses, dos apetites? Que aprecia rotinas, que pratica a mesma arte marcial há mais de três décadas?
Visto assim, nenhuma dúvida de que sou um conservador.
Por outro lado, não sou avesso à inovação. Escrevo num iPad e não com caneta Parker de aparo de ouro. Antes escrevia no computador, desde que adquiri o primeiro, no início dos anos noventa -- e mais para trás escrevia à máquina. Aderi à fotografia digital nos seus primórdios, farto de câmara escura. Prefiro ler ebooks a papel -- mas a minha vista e os meus hábitos de leitura podem ajudar a explicar esta preferência pouco conservadora. Fascinam-me as engenhocas, as descobertas alheias, as novidades do progresso tecnológico e, sobretudo, científico.
Mas o meu amigo quer insinuar que sou politicamente conservador. Ora aí tenho de discordar. Desde que me afastei da praxis política, pouco depois do 25 de Abril, não me filiei, não me tornei simpatizante de nenhum partido, o que me permite manter a distância, a visão fria sobre as respectivas ideologias e ideias (um deserto) e as políticas propostas - infelizmente, digo-o com pena sincera - é tudo a mesma merda. Todos, com as suas políticas, ou com a ausência de políticas alternativas, nos mergulharam na fossa fedorenta de onde não vejo como conseguiremos sair. Já votei em todos os partidos, inclusive, confesso-o com alguma vergonha, no partido do Reinaldo, como aconteceu recentemente nas eleições autárquicas, precisamente porque alguns dos candidatos eram amigos cujo mérito reconheço e admiro...
Tudo bem pesado, parece-me evidente que o fiel da balança se inclina nitidamente para o lado conservador. Mas, assim gosto de me ver, assim gostaria de ser, conservador esclarecido, de olhos abertos. Conservador, mas não de direita, nem atacado pela cegueira conservadora do PC ou do Bloco, nem afectado pelas fogaças mediáticas de um PS acéfalo. Sem preconceitos, livre para votar no partido que, em cada eleição, me apresentar o projecto mais credível, ou menos mau, ou candidatos que respeite. Ou em nenhum, como fiz nas últimas eleições presidenciais.