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segunda-feira, 16 de setembro de 2019

Do meu vinho e da minha escrita

Anos atrás, num dia em que se acabou o vinho na colectividade da minha terra, telefonou-me um sobrinho a perguntar se vendia um pote de 10 litros.
Não, não vendia. Dava. Que o fosse buscar.
Tempos depois, perguntei-lhe o que é que os entendidos, bebedores diários e inveterados, tinham achado da minha pinga.
Devia ter adivinhado: santos de ao pé da porta não fazem bom vinho, menos ainda o Zé, que nunca foi agricultor a sério, nem anda a cair de bêbedo nas noites de sábado; ainda se fosse descendente dos “ricos” da terra, ainda se o vendesse, que o dado não presta, nem permite dizer que não vale o que custou...
Não, aquilo não era vinho, sem o forte sabor do sarro dos tonéis, sem dose cavalar de metabissulfito — feito com toda a higiene, conservado em cuba de aço, não sabia a vinho!
Soube depois que o meu sobrinho, desgostoso, retirou o invólucro interior e colocou-o dentro de  embalagem de cartão da marca habitual. Aí beberam-no, ao que me parece sem mais protestos, excepto quando um dos habitués se queixou dias depois: Este vinho não é da... (a marca da caixa de cartão)!
Como é que sabes?
Deixei de cagar preto!
(O que tem isto a ver com os meus romances? Tudo. As editoras rejeitam-nos por razões análogas e preferem as cagadas. E depois queixam-se da falta de leitores.)

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