Assim que fui colocado pela primeira vez tratei de me sindicalizar. Entendia ser essa obrigação de cada trabalhador. E, na minha ingenuidade, até li e concordei com os estatutos do sindicato.
Levei a sindicalização a sério. Apresentei lista, candidatei-me a delegado sindical na escola em que então estava colocado — e perdi.
Paciência. Tal não arrefeceu a minha fé sindical.
Até que, após greve selvagem, os professores de uma escola de Lisboa foram despedidos.
Logo o sindicato estendeu asa protectora, comprometendo-se a pagar-lhes os salários, conforme estabelecido nos estatutos.
E eu aprovei.
Mas, poucos meses depois, a pretexto de uma lacuna no boletim de candidatura (lacuna que o certificado de habilitações anexado esclarecia), me vi no desemprego. Sem economias, com renda de casa elevadíssima— as casas para arrendar eram então raras como a chuva neste Outono —, família a meu cargo, nada de empregos, de trabalho naquela época em que o país e a economia andavam pelas ruas da amargura.
E lá vou eu ao sindicato. A querer que pressionassem o Ministério a reapreciar o meu boletim de candidatura. Não valia a pena. Havia milhares como eu, tratava-se de manobra do governo para diminuir drasticamente o número de professores provisórios. Processar o Ministério? Para quê, se lá não havia duas pessoas a dizer o mesmo?
Então, e o subsídio de desemprego, que consta dos estatutos e foi já atribuído aos colegas da escola X?
Riram-se. O sindicato não tinha verbas para tal, diziam. Em funcionários, assessores, equipamentos, rendas, ia-se todo o dinheiro das quotas.
Fui colocado meses mais tarde. E uma das primeira coisas que fiz foi cancelar a minha sindicalização.
Passaram muitos anos. Um amigo, delegado sindical, convenceu-me a voltar a aderir ao sindicato. Fizemos greve prolongada, bem organizada. O governo ia ceder. Depois de tantas greves simbólicas, em que perdíamos o salário para que o PC marcasse posição, finalmente uma que íamos ganhar. E uma manhã, ao entrar na escola, soube que o sindicato, o Teodoro, nos tinha novamente traído, pondo fim à greve sem nos ouvir.
Outra vez cancelei a sindicalização.
Há quem nunca aprenda certas lições. Como eu.
Nos tempos negros da Maria de Lourdes e da sua famigerada avaliação fui a uma reunião sindical, pedi o papéis e voltei a ser sindicalizado.
O dirigente sindical que me inscreveu bandeou-se para o Ministério da Educação.
E eu continuei a pagar a quota, 1% do salário, até à aposentação.
Levei a sindicalização a sério. Apresentei lista, candidatei-me a delegado sindical na escola em que então estava colocado — e perdi.
Paciência. Tal não arrefeceu a minha fé sindical.
Até que, após greve selvagem, os professores de uma escola de Lisboa foram despedidos.
Logo o sindicato estendeu asa protectora, comprometendo-se a pagar-lhes os salários, conforme estabelecido nos estatutos.
E eu aprovei.
Mas, poucos meses depois, a pretexto de uma lacuna no boletim de candidatura (lacuna que o certificado de habilitações anexado esclarecia), me vi no desemprego. Sem economias, com renda de casa elevadíssima— as casas para arrendar eram então raras como a chuva neste Outono —, família a meu cargo, nada de empregos, de trabalho naquela época em que o país e a economia andavam pelas ruas da amargura.
E lá vou eu ao sindicato. A querer que pressionassem o Ministério a reapreciar o meu boletim de candidatura. Não valia a pena. Havia milhares como eu, tratava-se de manobra do governo para diminuir drasticamente o número de professores provisórios. Processar o Ministério? Para quê, se lá não havia duas pessoas a dizer o mesmo?
Então, e o subsídio de desemprego, que consta dos estatutos e foi já atribuído aos colegas da escola X?
Riram-se. O sindicato não tinha verbas para tal, diziam. Em funcionários, assessores, equipamentos, rendas, ia-se todo o dinheiro das quotas.
Fui colocado meses mais tarde. E uma das primeira coisas que fiz foi cancelar a minha sindicalização.
Passaram muitos anos. Um amigo, delegado sindical, convenceu-me a voltar a aderir ao sindicato. Fizemos greve prolongada, bem organizada. O governo ia ceder. Depois de tantas greves simbólicas, em que perdíamos o salário para que o PC marcasse posição, finalmente uma que íamos ganhar. E uma manhã, ao entrar na escola, soube que o sindicato, o Teodoro, nos tinha novamente traído, pondo fim à greve sem nos ouvir.
Outra vez cancelei a sindicalização.
Há quem nunca aprenda certas lições. Como eu.
Nos tempos negros da Maria de Lourdes e da sua famigerada avaliação fui a uma reunião sindical, pedi o papéis e voltei a ser sindicalizado.
O dirigente sindical que me inscreveu bandeou-se para o Ministério da Educação.
E eu continuei a pagar a quota, 1% do salário, até à aposentação.