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sexta-feira, 25 de novembro de 2022

25 de Novembro de 1975 (reposição)

  Vivi o PREC (Processo Revolucionário em Curso) e o Verão Quente de 1975 com muito medo e uma arma na mão. Sempre que o meu quartel entrava de prevenção rigorosa, o que sucedia todas as semanas, deitava-me vestido e calçado, cinturão com cartucheiras carregadas, G3 com bala na câmara. Era muito influenciável e levava a sério as prelecções do comandante, que nos frequentes plenários revolucionários de lavagem ao cérebro antecipava ataques da reacção; apavoravam-me as medidas logo tomadas, como metralhadora antiaérea na parada para resistir aos aviões Fiat que no 11 de Março haviam bombardeado o Ralis, quartel revolucionário -- e a gritaria constante do povo que se manifestava fora dos muros do quartel soava-me como música fúnebre em filme de terror.

Boataria constante e contraditória. A televisão substituía a programação normal e a informação pelo malfadado hino do MFA ou passava ininterruptamente a estúpida da cantilena em que a gaivota voava, voava. Ambiente opressivo, sem notícias de casa e da família. Soldados enervados passavam-se e disparavam contra camaradas. Outros, apenas para saírem do quartel, voluntariavam-se para barricadas na RTP, desejosos de atirar sobre os reaças -- enquanto o comandante jurava morrer de botas calçadas quando “aí vier a reacção”. 
No 25 de Novembro foi a mim, segundo furriel miliciano com 21 anos mal feitos, que enviaram a erguer e comandar barricadas nas estradas da Atalaia e de Torres Novas, sem outras ordens, sem saber o que ia fazer, como proceder, apenas para o comando fingir que fazia alguma coisa, sem se comprometer embora.
Poucos dias depois, fui saneado, bem como todos os oficiais e sargentos milicianos da minha unidade – para minha grande alegria. 
E o valente comandante da EPAM (Escola Prática de Administração Militar), que jurava morrer de botas calçadas? Pois rendeu-se logo que os comandos de Jaime Neves, de passagem pelo Lumiar, dispararam bazucada contra a porta de armas... 
FOTO: pouco antes do 25 de Novembro. Sou o primeiro ajoelhado à direita.

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