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quarta-feira, 12 de abril de 2023

Nada de novo sob o Sol

 As notícias são sempre inspiradoras. Uma, de ontem, fez-me procurar um texto meu já antigo, de que apresento o excerto final.

Qualquer semelhança a realidade, como tudo o que escrevo, nunca é mera coincidência. [Contexto: Faculdade de Letras, anos 80]

“As aulas eram erráticas, sem planificação, ao sabor dos seus humores. O professor, sempre arrogante, autoritário, sobranceiro com os alunos. Sardónico ao falar dos colegas da área, sempre pronto a destruir as nossas respostas às suas perguntas com mordacidade cruel, num desejo infantil, assim supunha eu, de se ver venerado. Mas havia mais, como vim a descobrir quando veio a “frequência”. Que, inevitavelmente, me correu mal.


— S’tôr, quando é que entrega os testes?

— Não  entrego. E do alto da sua estatura, ampliada pelo estrado, passeou olhar de gozo pelo Pavilhão Velho repleto de alunos incrédulos, a  apreciar o efeito, a saborear o burburinho de protesto.

Depois acrescentou: — O departamento não permite, mas podem passar amanhã pelo meu gabinete para os ver e  saber as notas.

Bom, à hora aprazada lá estávamos, eu e uma colega, autêntico mulherão.

— Você, disse-me, teve onze. Espantei-me. O teste não tinha sinais de ter sido corrigido. Mas ele era o deus único e verdadeiro da linguística e eu estava, tinha consciência disso, mal preparado pela leitura apressada de fotocópias e apontamentos dispersos e desconexos. 

Onze dava para passar, era o que eu queria.

— E você, disse à boazona minha colega, teve sete.

— Sete? O s'tôr está a brincar comigo!

O s'tôr ria. E ela teimava: — O s’tor só pode estar a brincar comigo!

Com pressa para o comboio — trabalhava à noite, a cem quilómetros, estudava de dia — deixei a minha colega a insistir que  o professor só podia estar a brincar com ela. Até porque me sentia a mais, com ele a propor-lhe irem os DOIS tomar um café fora da faculdade enquanto discutiam a nota.

No dia seguinte, encontro-a na faculdade: — Vês, o professor sempre estava a brincar comigo! Tive dezassete!”

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