Enquanto deixo passar a hora de maior calor, ouço na televisão um cantor: "Tu passas por mim com o teu ioiô". Se tivesse uma voz prodigiosa , até podia pedir um Mercedes Benz e uma televisão a cores, como a Janis Joplin, que nos deixava deslumbrados. Mas a voz é banal, talvez uma terceira voz dos meus tempos de ciclo preparatório — eu era da quarta, e da única vez que me atrevi cantar levei uma bofetada do mestre de Canto Coral — que se aproveita, então? A música pimba, igual às outras do género? O “boneco”?
Deixo de lado a voz, um dom que se pode trabalhar, se houver por onde, e a música, arte que deveriam estudar tendo em conta o métier escolhido. Fico pelas letras, certamente o mais acessível.
Ora sempre me admiro quando os ouço e dou por mim a comentar: mas esta gente não se ouve, não se enxerga? Querem trabalhar na música e são insensíveis à musicalidade das palavras, ou, no caso, à ausência dela? Suponhamos que relacionamos cada sílaba com uma cor. Que temos no citado verso? Um amontoado de cores sortidas, que não combinam entre si. Como é possível que se esmerem na composição do "boneco" e sejam tão desleixados, ou insensíveis, quanto ao que cantam?
Mais: como é possível que tantos artistas, de valor igual, pululem pelo país fora e encham as tardes de sábado das televisões, sem voz, sem música, com letras prosaicas e triviais? Onde esperam chegar? Ou a auto-satisfação por aparecerem na TV basta, desculpa, justifica tanto apego à mediocridade?
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