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segunda-feira, 25 de novembro de 2024

Guerras do Alecrim e da Manjerona

A parvoíce não começou agora, acompanha-nos certamente desde que a humanidade aprendeu a falar. Mas, atrevo-me a afirmar, nunca se viveram tempos tão parvos como os actuais. Se duvidam, ou pensam que exagero, atentem numa  das polémicas actuais, incida ela sobre vestuário e símbolos religiosos, a forma como  um jogador de futebol festejou ou não festejou o golo, as conversas de balneário (pensava eu que o balneário era o local onde  uns gajos nus tomarem banho procurando não deixar cair o sabonete), agora as discussões acaloradas sobre o 25 de Novembro, quase sempre com intervenientes sem idade para terem participado activamente nos acontecimentos.

Note-se que não questiono a utilidade de apurar factos, e de nos indignarmos com a punição de rapariga muçulmana que ousou mostrar os cabelos, no Irão ou na França, com os gestos malcriados ou atitudes violentas no futebol, ou com os desmandos ocorridos no pós-25 de Abril, marcados pela intentona spinolista do 28 de Setembro de 74, com o bombardeamento aéreo e ataque dos pára-quedistas ao Ralis no 11 de Março,, o Verão Quente de 75, os combates no 25 de Novembro.

Mas, no momento em que vivemos acontecimentos extremamente preocupantes, com a Terceira Guerra Mundial já em curso, fazer de uma data de um passado já distante, que já pouco ou nada tem a ver com a realidade em que vivemos, mais um símbolo para esgrimir entre adversários políticos, com importância idêntica à de saber se fulano usou cravo na lapela nas comemorações do 25 de Abril, certamente por falta de ideias actuais, excede em ridículo, e de longe, as Guerras do Alecrim e Manjerona ( António José da Silva, o Judeu) ou do Hissope (Cruz e Silva).

Digo eu, que vivi o 25 de Novembro “com muito medo e uma arma na mão”, conforme escrevi há anos neste blogue.

segunda-feira, 11 de novembro de 2024

As vítimas

Os adeptos judeus cantavam pelas ruas de Amesterdão:“Deixem as IDF ganhar / Nós vamos lixar os árabes “ (imagens e tradução na TVI). E sgundo outras fontes, “Destruímos as escolas pois já não há crianças em Gaza,”

E, coitadinhos, foram vitimas de antissemitismo. Certamente Israel vai bombardear Amesterdão e matar uns milhares como retaliação.

A flauta

 Contava-se na minha meninice que um velho da terra, outrora criança— coisa estranha! — tinha sido tirado da escola primária pelo pai na segunda ou terceira classe  para trabalhar no campo consigo, como então se usava.

O calor de Junho logo pela manhã, a enxada de bicos maior do que ele, quase tão pesada, a terra seca, gretada pelo Sol,  desanimariam qualquer um, quanto mais a ele, relezito, mal alimentado, contrariado, não que gostasse da escola e dos maus tratos diários do mestre, mas agora até ela se lhe afigurava preferível ao tormento em que se via.

Eis que o pai, barril de água-pé aos queixos, o vê afastar-se sorrateiro, pára na estrema junto a pequeno canavial , nas mãos não a famigerada enxada, mas o canivete e uma cana.

Zé, vem trabalhar!, manda.

Não posso, pai, estou a fazer uma flauta!

Algum tempo depois: Zé, vem cavar comigo!

Não posso, pai! Estou a aprender a tocar flauta!

Passou preguiçoso o tempo, com sempre sucede quando se cava. Mas passou, e chegou o meio-dia solar e com ele a hora do almoço, a que então se chamava jantar.

Tocado pela negra fome, endémica, ancestral, o rapaz chega-se, espera em vão o seu quinhão:

Ó pai, não me dá comer?

Toca flauta, Zé! Toca flauta, Zé!