"De facto, o sacerdote queria impressionar com os seus dotes oratórios o povo ímpio e, sobretudo, as jovens que tinham vindo assistir ao casamento e, especialmente, aquela cujo palmo de cara reluzia entre a multidão, corpo tentador como o Demónio — a bela Teodora, que os rapazes, invejosos, já comparavam à República e aos seus políticos, uns sempre a entrar, outros a sair, e, tal como eles, trocando favores por libras inglesas. Constara-lhe que fora amante do seu antecessor, o nunca esquecido mas jamais saudoso Padre Vergílio e, vendo o resplendor quase divino da sua beleza, também o jovem padre, Amílcar de seu nome, ansiava já pelo pecado, sabendo bem que há sempre perdão para pecador arrependido." (...)
"Cismava que talvez a Teodora sentisse necessidade de romper com a monotonia da monogamia, ela que fora a mulher mais requestada da freguesia e arredores e imaginava-a nua, uma mulher ainda vigorosa, mais cheia do que nos seus tempos de glória, quando fora amante do próprio padre Vergílio — e de boa parte dos homens ricos e poderosos das redondezas. É certo que com o casamento parecera tomar juízo e a pouco e pouco as más-línguas deixaram de se ocupar dela, embora nunca se visse livre da alcunha conseguida na juventude, quando comparavam as suas liberalidades generosamente retribuídas às da República.
Como alma de outro mundo assombrando mortal, a sua imagem perseguia o Jaime, distraindo-o na lida do campo, nas conversas nas adegas, na cama, privando-o do sono de que carecia o seu corpo cansado. Fechava os olhos tentando dormir, mas apenas via as rijas pernas, bem feitas, o peito redondo e cheio, ainda arrogantemente alevantado, os dentes muito brancos e sãos espreitando da boca vermelha, tentadoramente aberta, a longa trança, negra e luzidia apesar dos anos — e imaginava as mamas, grandes e brancas, atraindo as suas mãos calejadas pelo trabalho, as ancas volumosas como égua garbosa carecendo de cavaleiro que a cavalgasse à desfilada, as bochechas redondas do cu que a sua barba picaria, as pernas prendendo-o como tenazes, e sempre, sempre, a coisa preta e farfalhuda, atraindo-o como o mel à mosca.
Não era apenas o Jaime que se sentia fascinado pela Teodora; se, depois de casada, mantinha à distância os pretendentes, dando tampa após tampa, humilhação após humilhação, nem por isso cessavam os olhares gulosos, espreitando-a descaradamente ou à socapa, no rio, quando tinha de aliviar roupa, na vindima, quando ao carregar poceiros à cabeça a saia subia descobrindo um pedaço da coxa farta ou quando, na eira, se esticava para chegar ao estendal... Eram sobretudo rapazes de imaginação fervente, excitados como cães que farejam fêmea no cio, que a espiavam escondidos pelas vinhas que rodeavam a casa da Teodora, onde ao longo dos anos incontáveis punhetas se bateram em sua honra."
"Cismava que talvez a Teodora sentisse necessidade de romper com a monotonia da monogamia, ela que fora a mulher mais requestada da freguesia e arredores e imaginava-a nua, uma mulher ainda vigorosa, mais cheia do que nos seus tempos de glória, quando fora amante do próprio padre Vergílio — e de boa parte dos homens ricos e poderosos das redondezas. É certo que com o casamento parecera tomar juízo e a pouco e pouco as más-línguas deixaram de se ocupar dela, embora nunca se visse livre da alcunha conseguida na juventude, quando comparavam as suas liberalidades generosamente retribuídas às da República.
Como alma de outro mundo assombrando mortal, a sua imagem perseguia o Jaime, distraindo-o na lida do campo, nas conversas nas adegas, na cama, privando-o do sono de que carecia o seu corpo cansado. Fechava os olhos tentando dormir, mas apenas via as rijas pernas, bem feitas, o peito redondo e cheio, ainda arrogantemente alevantado, os dentes muito brancos e sãos espreitando da boca vermelha, tentadoramente aberta, a longa trança, negra e luzidia apesar dos anos — e imaginava as mamas, grandes e brancas, atraindo as suas mãos calejadas pelo trabalho, as ancas volumosas como égua garbosa carecendo de cavaleiro que a cavalgasse à desfilada, as bochechas redondas do cu que a sua barba picaria, as pernas prendendo-o como tenazes, e sempre, sempre, a coisa preta e farfalhuda, atraindo-o como o mel à mosca.
Não era apenas o Jaime que se sentia fascinado pela Teodora; se, depois de casada, mantinha à distância os pretendentes, dando tampa após tampa, humilhação após humilhação, nem por isso cessavam os olhares gulosos, espreitando-a descaradamente ou à socapa, no rio, quando tinha de aliviar roupa, na vindima, quando ao carregar poceiros à cabeça a saia subia descobrindo um pedaço da coxa farta ou quando, na eira, se esticava para chegar ao estendal... Eram sobretudo rapazes de imaginação fervente, excitados como cães que farejam fêmea no cio, que a espiavam escondidos pelas vinhas que rodeavam a casa da Teodora, onde ao longo dos anos incontáveis punhetas se bateram em sua honra."
Entre Cós e Alpedriz
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