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segunda-feira, 5 de abril de 2010

Mas os padres fazem-me falta!

"Assim rogada, a comadre contava, baixando a voz e olhando em volta como se ouvidos indiscretos a pudessem ouvir ou olhos desconfiados a pudessem ver a falar da vida alheia. Fazia-o porque história segredada tem sabor a rumor e o povo adora murmúrios e boatos. — Pois, comadre, até corre por aí que anda metida com o padre Vergílio!
— Não me diga! Não posso crer... Logo com o senhor prior!
Pois era para que a comadre visse como são as coisas. Tempos atrás falara com a Teodora da parte do Ildefonso, um rapaz sério. Recebera a proposta com desdém: que ele era feio, que isto, que aquilo, que não queria nenhum cavador de enxada para passar a vida arrastada, agarrada à terra. Tanto escolheu, que deu nisto!
A mãe da Joaquina estava mais interessada no romance: — Logo com o padre! Que eu nunca dei muito por ele, sempre o achei herege, com essa conversa de que Deus está no Céu, na Terra e em toda a parte, até no curral da minha burra!
O marido, pouco apreciador de homens de saias, como gostava de frisar, meteu-se na bisbilhotice: o pároco era uma besta, profanando um local sagrado como é a igreja com ditos parvos em linguagem imprópria, como esse da burra. Sim, que mesmo os ateus, mesmo os pedreiros-livres, quando entram numa igreja para um funeral, para um casamento, comportam-se com compostura. Então como admitir ao vigário de Cristo...
As mulheres não o ouviam. Não era a moralidade, antes a imoralidade que lhes interessava. Deixaram a continuação da má-língua para mais tarde, sem homens por perto a atrapalhar — ainda por cima, como é sabido, eles têm uma língua de trapo e então se bebem um copo a mais..."

Entre Cós e Alpedriz

(Foto: igreja de Alpedriz)

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