Desde criança, quando a minha aldeia era o centro do Mundo e o Mundo o Universo, que penso insistentemente em questões que escapam ao humano entendimento: Deus, Eternidade, Criação, Alma, Vida, Morte, bem e Mal... Envelheci, mas nem por isso me deixei dos porquês da infância, sempre insatisfeito com a ausência de respostas convincentes -- que o correr inexorável do tempo torna mais urgentes e necessárias.
Por isso sou leitor compulsivo das obras de divulgação científica, na esperança de que a ciência me esclareça daquilo que as religiões são incapazes. E o último livro terminado, Eternity, God, Soul, New Physics, de Trevelyan,
é absolutamente fascinante. O autor, sem prescindir de linguagem científica rigorosa, discute estes assuntos que, em geral, andam arredados da ciência, relegados para a religião ou para a filosofia, e, tendo em conta recentes experiências intrigantes, que parecem indiciar a possibilidade de existência (ou, pelo menos, a concepção) de um espaço sem tempo (a Eternidade) e a Ciência da Informação, recupera velhas ideias, como o Idealismo e o Panteísmo.
Em termos muito sumários, faz da Informação, entidade abstracta, sem massa nem energia, mas com existência indiscutível, a chave para a resolução dos paradoxos da Mecânica Quântica, como, por exemplo, o facto de uma partícula, qualquer que seja, ter natureza corpuscular ou ondulatória -- dependendo da observação. Defende, sempre sustentado em experiências de laboratório, que não é a observação que determina a natureza corpuscular ou ondulatória das partículas (o que permitiu num passado recente a afirmação de que a Lua só lá está porque há alguém para a observar), mas a possibilidade de observação.
O Universo é assim constituído não apenas por matéria e energia, mas também, e sobretudo, por informação. Na síntese do físico J. Wheeler, "it from bit": as partículas são pacotes de bits.
Não há, na sua perspectiva, incompatibilidade entre as recentes descobertas da Ciência e a existência de Deus, Alma, Eternidade. Pelo contrário, essas descobertas parecem evidenciar, sustenta o autor, a verosimilhança dessas entidades postuladas pelas várias religiões desde tempos imemoriais.
Um livro que seguramente aborrecerá tanto os ateus convictos -- se Deus não existe, para quê perder tempo com Ele? -- como, por exemplo, os cristãos fundamentalistas, ao rejeitar a ingénua criação do Mundo por um ancião ranzinza, não raro ciumento, frequentemente colérico e vingativo -- o velho Jeová do Antigo Testamento. O Deus que nos propõe é uma recriação actualizada à luz do conhecimento científico do velho Panteísmo:
And if we have the courage to look beyond the simplistic views thundered from pulpits and the primitive conceptions of ancient prophets, to analyze reality with minds enlightened by knowledge and reason, we see God right before us. Not as a glorious king on a golden throne aloof from the travails of humanity. Not as a remote, abstract force, a ruler of mathematical laws from which Nature evolves, indifferent to our sufferings. But as a transcendent Mind, interwoven with all of reality. This is the God of science, the pantheistic God, the God who suffers with us.