Passavam os anos, mais aquela mulher se queixava. Dores insuportáveis, sofrimentos sem fim, graves doenças.
Mulher doente, mulher para sempre.
"Ah, se ao menos a Morte me levasse!"
Mas a Morte gosta de escolher as vítimas. Deixava-a ficar. A penar. A lamentar-se.
Um dia, o pobre marido, já sem paciência para tanta lamúria, combina com o criado: "Matas e depenas o peru, à noite bates à porta, respondes que és a morte e vens buscá-la."
E para a mulher: "Consta que a Morte anda pelas redondezas..."
"Virá à minha procura?", pergunta apavorada.
"Não é o que queres?"
"Sim, mas como a conheço?"
"Ora, a Morte é como alma depenada..."
Ceiam à luz da candeia. Batem à porta. "Quem é?", sussurra a mulher assustada.
"Sou a Morte!", geme à porta o criado.
"Que queres, Morte danada?"
"Venho por alguém que chamou por mim..."
"Esconde-te na cama, diz para o marido, deixa-me conversar com essa malvada. Que me leve, a mim, que cá já não faço nada!"
Abre-se a porta. O criado atira-lhe o peru aos pés.
"Ó Morte depenada
Não me leves a mim
Leva o que está escondido debaixo da almofada!"
(Popular, contado à minha maneira"
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