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sábado, 7 de maio de 2016

Verão. Quente (1)

1975. A contra-revolução crescia. No Tejo, ameacadores navios de guerra da NATO. Em Rio Maior, barricadas. Caça aos comunistas no Oeste, incêndio das sedes do PC. 
No meu quartel, deram camuflado a cozinheiros e a padeiros, passaram-nos a operacionais, a eles que mal sabiam manejar a G3 e pareciam ansiosos por a usar. Um dia, vi da minha janela um açoreano gritar para outro: -- Pá, dá-me um tiro!
-- És doido ou quê?
-- Ah, não dás? Atão dou eu! 
E zás, aponta-lhe a G3, pum! Pum!
Grita o outro, resguardado na camarata: -- Pára com essa merda, és doido ou o c...?
A medo, assomam às portas e janelas outros prontos, acaba por vir o oficial de dia, cauteloso,
-- Sim, meu aspirante, fui eu, esta merda disparou-se não sei como!
Segue responso: não deve ter bala na câmara, e a arma deve estar travada. Tiros, só contra a reacção. E furriel ranhoso acrescenta: -- E contra o M-R- Pum-Pum! Podes furar esses cabrões todos!

1 comentário:

Beatriz Lamas Oliveira disse...

Furar esses cabrões todos do MRPP também eu dizia na altura! Trás-catrapás-trás-trás!