Macron quis visitar uma fábrica de electrodomésticos que vai ser deslocalizada para a Polónia (a Wirlpool) e foi recebido com manifestações violentas, acabando a falar para as televisões no gabinete da administração; Le Pen apareceu de surpresa, e foi recebida com simpatia idêntica à de Jerónimo Sousa quando visita operários em luta: com exuberantes manifestações de carinho, beijos e abraços.
Para aqueles operários, Macron é o símbolo do capitalismo apátrida e da globalização; Le Pen, uma amiga que, como eles, quer o regresso à velha França, com fronteiras onde seria possível manter os direitos laborais penosamente conseguidos em duras lutas, não raro com sangue derramado. (Pourquoi ont-ils tué Jaurès?, perguntava Jacques Brel)
Não perco tempo com chavões, colagem de etiquetas a um e a outra, menos ainda a confundir os meus desejos com a realidade, e a realidade é o que dela fizemos, ou fizeram por nós os sátrapas deste capitalismo selvagem, que não quer fronteiras, nem direitos laborais, nem protecção do ambiente, e por isso mesmo deslocaliza para onde possa, ainda, explorar e destruir impunemente, na esperança de, quando tal não continuar a ser possível, substituir todos os trabalhadores por robôs — que não exigem salário nem fazem greve.
E assim, com os olhos atentos à realidade operária de França, não ficaria surpreendido se, como já aconteceu com Trump, essa realidade que as esquerdas tanto valorizavam, "le peuple", votasse com o coração e não com a razão, até porque a razão parece ser a do mal menor — e interrogo-me se é o mal menor para quem acaba de perder o emprego ou para o grande capital...
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