– Afilhado, quando fizeres a quarta classe, dou-te uma bicicleta!
A promessa apanhou-me de surpresa, deixou-me sem fala, a rebentar de alegria interior. Uma bicicleta! Minha, não como a de outros garotos, surripiada às escondidas ao pai, ou a irmão mais velho, o que lhes valia depois umas boas tareias. Logo que pude, deixei-o na cavaqueira na adega com o meu pai, e corri a dar a grande notícia à minha mãe.
-- Dá-te uma bicicleta? Tomaria ele ter uma! Isso são coisas que se dizem aos garotos.
– Dá, ele disse que dava, o meu pai ouviu.
– Então espera
por ela.
Esperei. Fiz a quarta classe, o Ciclo preparatório, o Curso Comercial, etc., etc. Sempre sem bicicleta. Que essa há-de dar-ma o meu padrinho, assim prometeu num serão na nossa adega sessenta anos atrás.
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