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quinta-feira, 5 de novembro de 2020

Reciclagem


Reciclo tudo o que posso – plásticos, metal, vidro, óleo alimentar, pilhas, lâmpadas, eletrodomésticos avariados. Será bizantinice minha, mas alguma da reciclagem que faço causa-me apreensão. Em primeiro lugar, os papéis.
Talvez numa grande cidade não seja fácil identificar o lixo de cada morador, mas aqui é perfeitamente possível saber o que como, o que bebo, que medicamentos tomo (logo, as doenças que tenho) para além dos papéis que, embora rasgados, revelarão a alguém com paciência dados de consumidor e bancários.
Poderia recorrer a um destruidor de papel; mas o processo é demorado e nem todo o papel é adequado; não posso, por exemplo, destruir nele as caixas dos “gadgets”, da Décatlon, do IKEA…
Tudo isso permite, muito facilmente, a alguém mal intencionado, não apenas conhecer os meus hábitos de consumo, mas igualmente o que tenho em casa a merecer uma visita na minha ausência.
Mas, pior, dei comigo a pensar, são certos eletrodomésticos que, mesmo avariados, guardam demasiada informação minha e dos meus. Por exemplo, telemóveis e telefones fixos, pen drive, discos velhos de computadores…
Ora ontem, a pensar nisto, levei trastes para o Ponto Electrão próximo. Entre eles, um telefone avariado, um Kindle com muitos dos meus escritos, na sua maior parte inéditos, e um velho disco de computador. Já a pensar no pior, deixei-o cair no chão várias vezes, mas não tenho a certeza de o ter avariado. (Não o formatei por não ter onde).
Eu a pôr os objectos na gaveta do Ponto Electrão e um cavalheiro, creio que estrangeiro, a pedir-mos.
Recusei. Uma besta avarenta e mesquinha, terá ele pensado.
Paciência. Havia demasiada informação pessoal naqueles dispositivos, recuperável com um mínimo de conhecimento.
Entrei no carro e segui, convencido de que mal me afastasse ele iria retirar os meus monos do contentor.

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