Por uma e outra vez, manifestei aqui dúvidas sobre a violação de uma empregada de hotel pelo então boss do FMI. E revoltei-me ao ver multidões em fúria, à porta do tribunal, a injuriá-lo, gajas histéricas a exigirem a sua cabeça porque se não é culpado desta, é-o certamente de outras, numa versão moderna da fábula do lobo e do cordeiro: Se não foste tu, foi o teu pai! -- afinal, cenas déjà vues aquando do processo Casa Pia. Os ricos, os poderosos, os influentes, que as multidões adulam, são sempre culpados e merecem expiar os pecados da turba que os lincharia alegremente. Sempre foi assim, de Cristo aos regicídios, talvez por isso o Santo Ofício queimasse uns pobres diabos para evitar que a populaça assasse os grandes diabos. Catarse.
Não me surpreende, portanto, que hoje os media noticiem fragilidades na acusação. Só me surpreende que tenha sido preciso tanto tempo -- o suficiente, porém, para que Strauss-Kahn fosse substituído no FMI -- para verem o óbvio. E às numerosas indignadas deste país e d'ailleurs, só posso sugerir que da próxima vez se lembrem da dúvida metódica para que não baste uma criatura gritar que foi abusada para crucificar alguém. Não é apenas a presunção da inocência; é a diferença entre a barbárie e a civilização.
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