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quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

A epígrafe deste blogue

A frase que serve de epígrafe a este blogue ocorre neste excerto de Do lacrau e da sua picada:
Calmamente arranja-se para sair, está uma linda tarde de Inverno, dará uma volta a pé, quando regressar sentar-se-á num dos bancos do jardim em frente à sua casa, sorrirá vagamente porque é a primeira vez que o faz desde que ali mora, ela é mulher de centros comerciais e de bares, não de jardins públicos e ar puro.
Pela janela, o Luís avista-a, tem um impulso, correr até ela como fazia em criança, contém-se, com a idade vai ficando mais tímido. Atira-se novamente para cima da cama, não sabe o que pensar, mas julga que tem de pensar qualquer coisa, talvez seja sua obrigação ralhar com a mãe, persuadi-la. Contudo, ela falou de modo tão seguro que pressente não valer a pena insistir, embora algo lhe diga que é essa a sua obrigação, os filhos devem tomar conta dos pais, especialmente o Luís, que tem pais tão difíceis. Chora impotente, convencido de que se já fosse um homem saberia o que fazer, mal ele sabe que está enganado, os homens, mesmo muito velhos, morrem meninos.
O Sol desce rapidamente no horizonte e é escondido pelos prédios de andares que circundam o jardim; o frio instala-se. A Lúcia regressa a casa, está calma, como se tivesse encontrado algum sentido para a sua vida. Começa a cozinhar, sem mau humor, quase com prazer, embora algo distraída. Não nos enganemos, não é nem nunca será uma dona de casa prendada, cada qual é para o que nasce, apenas precisa de actividade física ou então sabe que tristezas não tiram o apetite a rapazes de catorze anos. Pelo canto do olho, vê chegar o filho, que começa a ajudá-la sem que lho tivesse pedido. Sorri-lhe. Ele fala:
— Mãe, acho que devia ralhar contigo, mas não sou capaz de o fazer. Conta-me tudo: quem é, porque é que te queres casar, o que vai ser de mim...
A mãe pega-lhe ao colo. Não é fácil, o Luís já é bem maior do que ela, faz-se a olhos vistos um latagão como o pai. Desta vez, ele não resiste. Deixa-a acariciar-lhe o cabelo, beijá-lo, Ah, é bom voltar a ser criança novamente, um dia o Luís descobrirá que um homem é só uma criança crescida, não precisa de se envergonhar por chorar no colo da mãe, que se explica no tom de voz meigo com que antigamente, quando fugiram de casa do pai, lhe contava histórias para o acalmar e adormecer: (...)

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