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domingo, 23 de novembro de 2014

Do lodo e da lama


Não partilho a alegria que parece ter tomado conta deste país pela prisão, certamente temporária, do antigo primeiro-ministro. Nem me coloco do lado daqueles que inventam justificações para apresentarem a detenção como resultado da perseguição dos seus inimigos. 

José Sócrates, o engenheiro dominical, irritou-me enquanto governante com a sua arrogância e, sobretudo nos anos finais do seu governo, com a sua cegueira obstinada que conduziu o país à perda da pouca soberania que lhe restava após a adesão à União Europeia e ao Euro. Não foi pouco. Mas foi eleito com o voto livre do povo, da primeira vez também com o meu, pelo que então dei por mim a repetir frequentemente "T'as voulu, t'as eu, de quoi te plains-tu?" (quiseste, tiveste, de que te queixas?), dito que a sua forte conotação sexual tornava ainda mais apropriado. 
Foi corrido em eleições livres. Adiante. Não me movem desejos mesquinhos de vingança. Se é culpado, que se faça prova em tribunal, que seja sentenciado com a justiça possível pela senhora dos olhos vendados. Que os devia desvendar mais vezes, para, ao errar, não ter a desculpa de não ver o que faz.
Pois eu, retirado na aldeia por uns dias, quase sem ver televisão, com acesso limitado à internet, ocupado de manhã à noite, nem sofri com o circo mediático, o mesmo que tanto favoreceu Sócrates nos seus tempos de governante, quando tratava por tu os chefes de redacção e não se coibia de lhes telefonar a pressioná-los. Não. O que me incomodou deveras foi o ataque massivo de mosquitos e moscardos que me deixaram num triste estado, apesar do repelente com que me cobri, ao teimar arrancar as batas-doces já afogadas em lamaçal e sob a chuva que não cessou de cair. 
FOTOS: (1) o meu fiel amigo, o Tex, sempre pronto a saltar para a caixa do tractor e a acompanhar-me nas idas ao campo; 
(2) a batata-doce, coberta de lama.

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