“Hablo en las tripas de Dios
Y vos hablaisme en los gatos!”
(O Castelhano, Auto da Índia, Gil Vicente)
Ontem, por mero acaso, a que não foi alheio o calor que me
fechou em casa, vi no canal Discovery “Criou Deus o Universo?”, com base em
livro do físico S. Hawking.
Ao longo do programa, o físico deixa claro que não pretende
mudar crenças e convicções, mas, à luz do conhecimento científico, e é este o
busílis, Deus não é necessário para a criação do nosso Universo. Para tal, e
como a energia total do Universo tem de ser zero – vejam o programa para
compreenderem a explicação, aliás perfeitamente intuitiva – são suficientes,
para que um universo surja do Nada, três ingredientes: Matéria, Energia,
Espaço.
Matéria e Energia, sabemo-lo desde Einstein, são a mesma
coisa; Espaço -- e aqui as minhas orelhas arrebitaram, curioso para conhecer a
definição de Hawkings – pois fiquei na mesma, limitou-se a dizer que é
abundante no Universo. Mas nem outra coisa seria de esperar, que o universo não
existe fora do Espaço. Do Espaço-Tempo, como sabemos desde Einstein.
Não duvido de que um universo possa surgir espontaneamente do
Nada, como argumenta Lawrence Krauss no seu extraordinário livro A Universe from
Nothing (Amazon), mas parece-me que esta visão estritamente materialista tem
uma insuficiência insuperável. Para que um universo surja e se estruture como aquele
em que vivemos é preciso Informação (ver, por exemplo, também da Amazon, God,
Soul, New Physics, de Trevelyan).
Explico-me sumariamente: se uma única das forças que regem o
Universo (força forte, força fraca, electromagnética e gravidade) tivesse um
valor infinitesimalmente diferente, o nosso Universo não existiria, e nós não
estaríamos cá a colocar questões sobre Deus e o Universo. Em termos mais
vulgares, não basta juntar ingredientes para cozinhar. É preciso seguir uma
receita – as leis da Física.
Ficamos, portanto, como na história do ovo e da galinha. Sem
Informação não há universo materialista, mesmo que todos os restantes ingredientes
necessários à sua criação estejam presentes. Como surgiu essa informação
estruturadora? Porquê?
Se a esses Princípios Criadores chamar Deus, ou leis da
Física, pouco interessa; as palavras surgiram muito provavelmente quando ainda
andávamos de tanga pelas savanas africanas, cruidas pela necessidade de descrever
um mundo – e não um universo – que se não estenderia muito para além do
horizonte, quando cada força da Natureza, cada catástrofe, era obra de um deus
e os milagres eram corriqueiros. As palavras que temos, as línguas naturais que
as integram, não são certamente adequadas para descrever a estranheza do
Universo e das suas leis e a nossa lógica de primatas não consegue conceber nem
os seus mistérios (que é a matéria negra? A energia negra? Que é o Espaço-Tempo?...)
nem os da sua criação.
Por enquanto.
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