Agora que a guerra dos taxistas conhece uma trégua e os
ânimos não parecem estar tão exaltados, atrevo-me a chamar a atenção para o
cerne do problema.
A ameaça maior que pesa sobre os taxistas não é a que provém
da Uber e afins, embora seja a mais imediata, porque, antes de mais, lhes
desvaloriza os alvarás, a partir do momento em que deixam de ser indispensáveis
para o exercício da actividade profissional, e não suporta idênticos custos
comerciais, nem em pessoal, nem em impostos, licenças, etc.
A maior ameaça, e não é ficção científica, pendente sobre
taxistas e TODOS os condutores profissionais de transportes rodoviários,
públicos e privados, chega sob a forma de veículos sem condutor, em fase avançada
de testes nos EUA e na Alemanha, por exemplo.
Se os particulares podem não querer, ou não poder, comprar
um carro sem condutor, já os gestores das empresas de transportes de toda a
natureza devem estar a esfregar as mãos de contentes com esta solução,
previsivelmente mais segura, porque isenta do erro humano, e incomparavelmente
mais barata. E não duvido de que as
grandes empresas do sector do táxi sejam das primeiras a aderir, dispensando os
condutores que agora levam para a rua em protestos exaltados.
É a vida. Foi assim nos primórdios da Revolução Industrial, quando
os operários em greve destruíam as máquinas que os enviavam para o desemprego,
foi assim que profissões inteiras, algumas até medianamente prestigiadas,
desapareceram. Por força do progresso tecnológico. Dactilógrafas, estenógrafas,
relojoeiros…
Neste Admirável Mundo Novo, em que até as mulheres-a-dias se
vêem ameaçadas por robots já acessíveis, que não se sentam a ver televisão no
sofá na ausência das patroas, nem têm horário de trabalho nem salário, haverá
cada vez menos trabalho, especializado e não especializado. Até que o ser
humano, cada vez mais remetido ao papel exclusivo de consumidor e fruidor,
seja, ele mesmo, dispensável.
A cada dia que passa, esse momento fica mais próximo. E os
taxistas julgam poder adiá-lo, ou evitá-lo, dando uns pontapés nos carros da
concorrência, por enquanto ainda com condutor…
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