Na primeira metade do século XV, em romance meu não publicado, o sonho de reversão da entropia:
“Prouvera ao Todo o Poderoso que as coisas corressem em sentido contrário – a vida, da velhice para a infância, os rios do mar para a nascente, as montanhas do cume para o vale que um dia foram — e todo este mundo sempre em mudança seria um lugar bem diferente e certamente bem mais tranquilo, talvez ainda intacto o Jardim do Éden onde fomos criados e nados: Adão e Eva, conhecendo antes o mal do pecado original havê-lo-iam evitado e, se o não fizeram, nós, seus descendentes, à medida que os anos passassem, corrigiríamos cada um dos erros da juventude que nos atormentam na velhice e não terminaríamos os nossos dias enfermos, rabugentos, amargos como fel, antes risonhos e felizes como crianças de peito a quem nem o Mundo nem a alma, nem o próprio corpo doem, até que, paulatinamente, desapareceríamos bem aconchegados no ventre materno. Os próprios rios, em vez de desalmadamente procurarem destino incerto resvalando por encostas, lançando-se por penhascos, embatendo furiosos contra rochedos que lhes barram o caminho, espreguiçar-se-iam tranquilos da foz para a nascente, contornando obstáculos, evitando sofrimentos, e as montanhas, livres do pecado da soberba, minguariam das alturas para o vale ou a concavidade que antes foram, sentindo-se tanto mais próximas do Céu quanto mais dele se afastavam...”
JCC, não publicado