O jantar foi ao borralho, na aldeia: costeletas do cachaço grelhadas na lareira, pão, vinho branco e novo para mim, velho e tinto para a minha mulher, laranja caseira, enorme e deliciosa, passas de figo e jeropiga da minha produção.
O branco está uma maravilha, seco, límpido (passei-o a limpo na terça-feira passada). E, inevitavelmente, ao bebê-lo me recordei da canção do vinho branco, interpretada aqui a escassas dezenas de metros, na Associação Recreativa Montense, há quase meio século.
Uma artista da rádio, cujo nome esqueci há muito, abrilhantava o espectáculo e, para nele envolver o povo, organizou um "festival da canção": ganharia quem tivesse mais aplausos.
Muitos moços acorreram ao palco, ansiosos por brilhar, por ganhar. Beatles para os estudantes, fado e folclore para os outros.
A competição estava a terminar sem que a força das palmas anunciasse vencedor inequívoco, quando o Tio A., a cair de bêbedo, cambaleou até ao palco, travado pela mulher:
— Homem, tu tem juízo, não me envergonhes mais!
E ele: — Larga-me, tartamudeava, que vou mostrar a esta rapaziada como é que se canta.
— O que é que vossemecê vem cantar?
— Eu venho cantar a canção do vinho branco.
O povo delirou. E ele cantou por entre gritos e assobios de encorajamento:
Ai vinho branco
Que te adoro tanto
A toda a hora
Bebo um casco inteiro
Sem deitar nada fora...
Os aplausos foram ensurdecedores. Ganhou.
Pois eu hoje não bebi um casco, apenas um único copo. É que o safado tem mais de 15 graus!
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