Desde os tempos bíblicos e homéricos que os figos têm vindo a perder status social. Na minha infância, dizia-se que "roubar figos não é crime", talvez por injustamente serem considerados fruta do pobre, e às figueiras, com má fama, acusadas de chuponas, era frequentemente destinada a pior terra. (Ainda o eucalipto não era praga nacional.)
Os figos, sazonais, extremamente perecíveis, dificilmente transportáveis e comercializáveis, perderam negócio primeiro para os pêssegos (Ah, o antigo Temporão de Alcobaça! E o Jota Galo!). Depois vieram as maçãs e as pêras, disponíveis todo o ano, e a fruta exótica -- coitados dos figos!
Sempre do contra, plantei há anos uma figueira no meu quintal, bem advertido dos perigos dessa árvore maldita: "Vizinho, olhe que lhe dá cabo de tudo! Até das paredes!"
Cresceu e entre anos bons, de boa produção, e anos maus, em que lhe juro arrancá-la se não produzir bem no ano seguinte, lá continua, não tão nociva, acho eu, como os agoiros prediziam. E os figos são incríveis.
Ora, como sucede nos anos bons -- e este é um deles, ainda bem que a crise não se propagou às árvores --, reparto a produção com os amigos. Surpresa é que, ultimamente, a simples palavra "figos" provoca olhares augados, conversa lastimosa: "As saudades que eu tenho da figueira do meu avô e das barrigadas de figos que lá comia" e eu, incapaz de resistir a tão forte desejo por uma das melhores frutas da Terra, volto a trepar à árvore, tentando encontrar mais uns figuitos para acudir à nova cliente. Sempre dados com indescritível prazer -- como a figueira mos dá.
Abençoada árvore.
Os figos, sazonais, extremamente perecíveis, dificilmente transportáveis e comercializáveis, perderam negócio primeiro para os pêssegos (Ah, o antigo Temporão de Alcobaça! E o Jota Galo!). Depois vieram as maçãs e as pêras, disponíveis todo o ano, e a fruta exótica -- coitados dos figos!
Sempre do contra, plantei há anos uma figueira no meu quintal, bem advertido dos perigos dessa árvore maldita: "Vizinho, olhe que lhe dá cabo de tudo! Até das paredes!"
Cresceu e entre anos bons, de boa produção, e anos maus, em que lhe juro arrancá-la se não produzir bem no ano seguinte, lá continua, não tão nociva, acho eu, como os agoiros prediziam. E os figos são incríveis.
Ora, como sucede nos anos bons -- e este é um deles, ainda bem que a crise não se propagou às árvores --, reparto a produção com os amigos. Surpresa é que, ultimamente, a simples palavra "figos" provoca olhares augados, conversa lastimosa: "As saudades que eu tenho da figueira do meu avô e das barrigadas de figos que lá comia" e eu, incapaz de resistir a tão forte desejo por uma das melhores frutas da Terra, volto a trepar à árvore, tentando encontrar mais uns figuitos para acudir à nova cliente. Sempre dados com indescritível prazer -- como a figueira mos dá.
Abençoada árvore.
1 comentário:
Ainda hoje recordo com saudade os dias passados na aldeia da minha tia materna. Recordo a "caça aos figos".Ai se recordo...
Precisamos todos de mais textos "figueiros".
Atenciosamente.
João Alfaro
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