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sábado, 19 de dezembro de 2009

Como um cidadão se torna arguido

Não tenho nada, nem sequer uma simples multa de estacionamento, no cadastro. Mas aprendi hoje que tentar validar uma licença de uso e porte de arma de caça caducada, indo por iniciativa própria à polícia, torna o cidadão (responsável, mas distraído com o tempo) arguido, com termo de identidade e residência, arma e licença apreendidas, até que o tribunal decida o que lhe fazer. Tenho a caçadeira desde 1982, tempo em que caçava, obrigado pela minha cadela setter, a Lisa, na foto, que em dias de caça -- ela sabia quais eram -- me acordava alta madrugada e não mais me dava sossego até que estivéssemos no campo, ela parando codornizes, eu errando-as umas após outras. Quando a Lisa morreu, arrumei a espingarda e pude passar as manhãs de domingo na cama. De cinco em cinco anos, telefonavam-me, primeiro da câmara municipal, depois da própria polícia, lembrando que a licença estava prestes a caducar, e prontamente pedia outra. Até que estas mordomias acabaram. E hoje, eu, que nunca cometi qualquer delito, entrei  sem proveito material nem glória mediática para o rol dos VIPs --- por ter deixado caducar uma licença. No mínimo, aguarda-me multa pesada. Mas, mesmo assim, sei que continuarei a não saber que dia do mês é hoje, a esquecer-me do ano em que estamos... Tempus fugit.
ADENDA:

A Lisa e eu, às vezes, caçámos alguma coisita. Perdizes, codornizes, galinholas, raramente coelhos, que ela detestava-os.

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