Gosto muito de ler poesia. Não me fico pelos consagrados. Sempre que posso, passo os olhos por sites de amadores. Neles, de vez em quando, raramente, há uns versos que me seduzem, pela originalidade, pelo ritmo, pelo conteúdo, embora, quase sempre, sinta que falta algo ao poema para que esteja acabado. Então, humildemente, elogio o texto, acrescentando, quase como quem não quer a coisa, que com um pouco mais de trabalho... Trabalho porque, sinto-o, a inspiração está lá, e toda a vida tenho repetido o dito de Paul Valéry: "perfection, c'est travail".
Ainda não encontrei poeta que me perguntasse o que é que falta no poema, o que mudar, como melhorar. É impressionante a segurança que manifestam, a certeza que os anima, a convicção de que qualquer crítica que vá além do elogio hiperbólico é apenas uma opinião, que se perde entre numerosos encómios.
Impressionante. Quase os invejo, eu que revejo dezenas, centenas de vezes os meus textos, e continuo insatisfeito. Que, quando estou prestes a terminar um romance, acordo de noite a ver passar, uma a uma, cada frase, cada palavra, sempre procurando melhor solução -- eu sei, parece mentira, e posso garantir que esta obsessão não é fonte de qualquer prazer. É a escrita, como a concebo, como a vivo, tortura diária e inglória. Felizes aqueles que se contentam com glória fácil, que a colhem com a naturalidade de um fruto maduro que lhes cai nas mãos.
Mas ocorre-me também que pode haver outras explicações para esta obstinação poética. Por exemplo, a vaidade. E socorro-me de um dos meus livros favoritos:
"O segundo planeta era habitado por um vaidoso:
-- Ah! Ah! Aí vem um admirador visitar-me! exclamou de longe o vaidoso, mal avistou o principezinho.
Porque, para os vaidosos, os outros homens não passam de admiradores.
(...)
Mas o vaidoso não o ouviu. Os vaidosos só ouvem os elogios."
Antoine de Saint-Exupéry, O Principezinho
2 comentários:
Belo texto, gostei da escrita e do conteúdo.
Obrigado. O belo texto é o do Principezinho.
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