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quarta-feira, 30 de junho de 2010

Tá feito

Entreguei ontem os exames de Português, 12º ano, após maratona de 7 dias, interrompida para fim-de-semana, uma tarde para aferição, outra para entrega. Como sempre, o mais difícil de esfolar foi o rabo e bem posso agradecer à nabice (para não escrever o que penso) do GAVE, que não fez o seu trabalho em condições e colocou no seu site uma folha de cálculo (de utilização obrigatória) engatada. Pior, não avisou os correctores e essa gentileza estendeu-se aos supervisores, os quais, sabendo-o e tendo os nossos contactos, se não incomodaram a mandar mail ou sms que me poupasse uma manhã perdida a lançar dados e um serão e outra manhã de inferno a tentar descobrir os gatos e a corrigi-los. Mais uma vez se comprova que gente importante não manifesta consideração pelos escravos, a quem tudo se exige, inclusive prazos demasiado exíguos, a partilhar com as actividades normais das escolas (vigilâncias  de exames, conselhos de turma, reuniões da treta...).
Em contraste, a paciência e a simpatia dos e das colegas encarregues de receber os exames. Só eles e elas  -- e o alívio que dá o dever cumprido -- dissiparam o meu péssimo humor.
Também o Mundial feito. Nada percebo de futebol, mas parece-me que ganharam os melhores e com toda a justiça.

domingo, 27 de junho de 2010

quinta-feira, 24 de junho de 2010

O corrector

Ingrata e incompreendida tarefa, a do corrector, que como árbitro involuntário se vê entre dois campos opostos. De um lado, aqueles que vêem nele o sacana que apenas os quer prejudicar, baixando-lhes as médias apenas por pura maldade, quando lhe seria muito mais  fácil fechar os olhos a erros, asneiras, ignorância crassa; do outro, a sua consciência ética e profissional, que o leva a cortar a direito, indiferente a dores e a gritos, tal e qual como o dentista que ontem me desvitalizou um dente partido e amanhã o reconstruirá.
Enfim, já só me faltam 14, na segunda-feira a reunião de aferição,  depois passar a tinta as cotações, trancar espaços em branco, preencher cabeçalhos, grelhas no computador... Entrega na terça.
E é tempo de voltar ao trabalho, que os exames não se corrigem sozinhos.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

domingo, 20 de junho de 2010

Ainda as exéquias de Saramago

Como a ministra da cultura estava feliz! Tão generosa a distribuir charme e sorrisos durante o seu discurso!

A arte de morrer*

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades: Camões morreu sozinho e ignorado, Pessoa teve quatro ou cinco acompanhantes no funeral e umas linhas no Diário de Notícias, Saramago tem honras à altura de jogador de futebol falecido no campo. E mais me espanta tanta gente sempre pronta a comentar para as câmaras de televisão, todos com opinião sobre o escritor -- afinal, que livros dele terão lido? Aposto que tantos quantos leram de Camões ou de Pessoa.
Neste país que sempre ignorou escritores e poetas (e artistas, de um modo geral), esta histeria colectiva face à morte esperada de um grande escritor escandaliza-me. Assisti às notícias da morte de outros igualmente grandes, sem espectáculo, sem dramatismo televisivo: Cardoso Pires, Rodrigues Miguéis, Jorge de Sena, Miguel Torga, Vergílio Ferreira, Sophia, Eugénio de Andrade...
Saramago, que dominou a arte do marketing como poucos e não teve pudor em a usar em proveito próprio, terá preparado (ou, pelo menos, consentido) um final em apoteose, capaz de o consagrar como superstar das letras no imaginário popular. Porém, dentro de dias, o futebol será outro, e apenas restarão os seus livros, uns geniais, outros desinteressantes, não raro, sobretudo nos últimos anos, mais do mesmo.


(*A arte de morrer longe: título do último livro de Mário de Carvalho)

sábado, 12 de junho de 2010

De volta a casa

Após treinos em Paredes de Coura, no dojo do sensei Vilaça Pinto. Treinámos até à exaustão, talvez um pouco além dela, o meu programa de exame: kumité na quinta-feira, no sábado de manhã katas e à tarde kihon e novamente as katas. Com o quimono sempre empapada em suor, apesar do tempo fresco e chuvoso. Almoços e jantares substanciais e bem regados, na sexta jantar de aniversário com o sensei e a família dele, por isso mesmo sem fotos.
O grupo. (Clicar para ampliar.) Da esquerda para a direita:
O Luís, o Xavier, o sensei, o Augusto e este escriba e fotógrafo.

O alojamento: como a única residencial da vila estava cheia, na sexta-feira tive de acampar no dojo, contra a vontade dos meus ossos e músculos, que pediam cama fofinha e sono a sós, sem ouvir o ressonar dos camaradas -- porque o meu não me costuma incomodar.
As katas: Jion, a minha favorita (tokui Kata) e Empi (a antagónica).

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Amanhã, 10 de Junho, feriado, é dia de...

Treino em Paredes de Coura, dirigido pelo Sensei Vilaça Pinto. (Clicar na foto para ampliar)

Das reformas múltiplas

1. Ontem a Presidência esclareceu que o senhor professor doutor só acumula duas reformas; o que não esclareceu é como é que o senhor presidente, estando, como está, no activo, recebe reformas. Presidente ganha assim tão pouco?
2. Faz confusão saber que uma mesma pessoa pode ter tido em simultâneo vários empregos. Fará menos confusão se tivermos presente que:
a) emprego é diferente de trabalho;
b) quem muito burros toca, etc. e tal;
c) O tuga é especialista em truques. Eis alguns muito corriqueiros:
-- O truque da antiguidade. Quando o amigo convidava (jamais os inimigos) para um tacho, negociava-se a antiguidade para a reforma, prestações pagas pela empresa pública, é bom de ver. Dez, vinte anos de antiguidade para a reforma logo à entrada...
--- O truque do casaco e da carteira. O quadro deixava o casaco e a carteira no seu gabinete; se alguém perguntava por ele, o funcionário fingia procurá-lo e esclarecia prestável: ---- o senhor doutor, de momento, não está; mas não anda longe, que tem o casaco e a carteira no gabinete. Claro que o funcionário também precisaria de uns diazitos, etc. e tal.
--- O truque do cartão de ponto. Hoje pico o meu e o teu, amanhã picas tu o meu. É sabido que quadro tem privilégios...
--- O truque de pagar os descontos  como se se estivesse a trabalhar numa qualquer empresa (e.g., Alegre na rádio).
--- O truque do conselho de administração. Tão bom como o truque de deputado. Sem palavras.
--- O truque de não gozar férias. Os elementos da administração não pedem férias durante anos, embora as tenham gozado à grande e à francesa, pelo que têm o direito de ser ressarcidos -- à grande e à francesa -- no momento da reforma.
--- Etc.
Não acredito que o senhor presidente, pessoa de reconhecida integridade, alguma vez tenha recorrido a truques ordinários como aqueles que referi. No entanto, fica-lhe mal:
-- receber reformas estando no activo;
-- arengar sobre sacrifícios, ética e quejandos. Porque, quem tem telhados de vidro...

terça-feira, 8 de junho de 2010

domingo, 6 de junho de 2010

Zé, simplesmente

Tempos atrás gabava-se mamã galinha:
--- O meu Rui é tão inteligente que até tem Avaliação Extraordinária!
Agora passa a ser assim:
--- O meu Rui é tão, tão inteligente que fez dois anos num!
E se alguém duvidar:
--- Sim, passou directamente do 8º para o 10º!
E o papá: --- É de família. Eu entrei há dois anos para a Universidade, nos mais de 23, já sou doutor e para o ano vou ser mestre.
--- Mas tu mal sabes ler! E escrever, então...
--- Qual quê! Sou é disléxico.
--- Disléxico?
--- Sim. Mas desde que me despenalizaram os erros, é só de dezoito para cima!
--- Dezoito?
--- Para cima. Mas não te admires: na minha universidade (é assim que ele chama à sua ESE) as notas andam todas à roda do vinte. Os stores são cinco estrelas!
--- Granda Sócrates!
--- Podes crer. Graças a ele, deixámos de ser o país mais desclassificado da Europa.
--- E Pisa?
--- Aquela torre quase a cair?
Não, a da avaliação, a do relatório...
--- Ah, essa mafiagem, que punha os nossos alunos atrás de todos os outros, até dos pretos! Ainda bem que o governo suspendeu a nossa participação. Só servia para nos baixar a auto-estima.
--- As coisas que tu já aprendeste!
Enfurece-se:
--- O que tu e os outros como tu queriam era serem os únicos doutores. Ainda bem que o 25 de Abril chegou ao ensino!
--- Doutor, eu? Deus me livre. Só Zé, não quero cá misturas.
(Imagem: João Alfaro)