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quinta-feira, 3 de novembro de 2011

A cegueira e o inevitável

Estrebucham os comentadores quais enguias na frigideira -- imagem que me é cara --, culpando a Grécia dos males da actualidade, incapazes de ver, porque o pior cego é aquele que não quer ver, que o problema não reside na Grécia nem nos gregos, mas num modelo social absurdo, que colapsará inevitavelmente, independentemente dos nossos desejos. Já aqui o escrevi: a riqueza é, na sua maior parte, virtual, o que explica que os bancos tenham perdido de um dia para o outro boa parte dos seus "activos". A riqueza actual é, sobretudo, especulação e foi "produzida" vendendo sucessivamente o mesmo bem quase sempre com ganhos, pelo que o seu valor se multiplicou astronomicamente -- e tudo o que sobe tem de descer, diz-se, como se diz também que quanto mais alto se sobe maior é é o trambolhão.
Se tivéssemos políticos capazes de olhar para o futuro em vez de fitarem tristemente a biqueira dos sapatos, estaríamos a implementar activamente um aumento da produção de bens agrícolas e industriais, sobretudo de primeira necessidade, a reinvestir nas pescas e nos recursos marítimos, nomeadamente na aquacultura. Colocaríamos sérios entraves à concorrência desleal, contrariando a entrada de bens concorrentes a custo inferior, invocando razões sanitárias, ecológicas, o que quer que fosse, contanto que desse tempo para apodrecerem antes de serem cá comercializados, arruinando ainda mais quem insiste em produzir.
Se, como receio, a bancarrota -- a grega, a nossa, a europeia -- for inevitável, teríamos ao menos com que matar a fome e assegurar as necessidades básicas da população. Se não for -- e bem gostaria que não fosse -- poderíamos fazer a eventuais excessos na produção alimentar o mesmo que o ministério da saúde está a fazer às vacinas da gripe.

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