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quarta-feira, 28 de março de 2012

Gabarolices

Tempos atrás recebi esta mensagem de uma ex-aluna:
Anónimo deixou um novo comentário na sua mensagem "A vida é uma festa (1)": 

Como está o Sr Professor?
O meu nome é XXXXX e fui sua aluna no 11ºano na Escola Secundária do Entroncamento, há cerca de 16 anos.
Hoje tenho 33 anos, duas filhas e apesar de um curso de Economia, o português e a recordação do professor que me fez amar a literatura e a minha língua, acompanharam-me desde então.
A vida deu-me a oportunidade de me cruzar no seu caminho, que apesar de em apenas duas horas por semana, me ensinou a gostar dos Maias, das Viagens na Minha Terra e do efeito contemplativo que ainda hoje me ajuda a ver o mundo, a vida e as pessoas com outros olhos, com a alma e com o coração.
Ensinou-me a ler e sobretudo a gostar de o fazer. Com isto mudou a minha vida para sempre. Se isto é o papel do Educador, então cumpriu-o na perfeição.
Continuo a amar os Maias e todos os outros que entretanto tive oportunidade de ler e lamento que no nosso país a única literatura que vende é a light, com a Margarida Rebelo qualquer coisa a bater records de venda. Lamento sobretudo que as gerações futuras não tenham o bom-senso para perceber que abrir um livro é um acto de inteligência, de liberdade e de capacidade de sonhar.

Nota: As aulas de português eram para mim uma festa...

Muitas felicidades
XXXXXXX

terça-feira, 27 de março de 2012

Nos correios

Uma ida aos Correios é suplício. Às tantas, dou pela entrada de uma moça já pouco moça que foi minha aluna. Do 7º ano ao 12º. De pequenina, cabelos pela cintura, uma bonequinha que não falava, até uma mulherzinha que também não falava. As coisas correram bem entre nós, apesar do seu mutismo: sempre a passei, com boas notas, inteiramente merecidas -- ou não lhas teria dado. Pois a moça já pouco moça -- como os jovens envelhecem depressa! -- entra e sai, sai e entra, resvés comigo, e coisa estranha, não me conhece. Enfim, maneiras de ser, ou anda um professor a educar uma jovem seis anos para isto, ou, como diz o meu amigo João, a partir dos cinquenta somos invisíveis para as mulheres, sei lá. Eu não existo e é tudo.
Pelo canto do olho apercebo-me da entrada de outra ex-aluna, esta apenas do 10º ao 12º. Notas pouco brilhantes. Prevejo que também me não vai conhecer. E, de facto, durante longos minutos, parece que me não vê naqueles correios quase desertos, em que os funcionários arrastam o serviço. De repente, põe-se a meu lado e conversamos. Pergunto-lhe pela vida, falamos de outras alunas. Nem tudo está perdido. O civismo ainda existe.

domingo, 25 de março de 2012

Almoço no quintal

Essa mulher

Numa tal festa da Primavera, TVI, dois moços esganiçam-se em disputa: "Eu vi primeiro essa mulher". Como se se tratasse de nota de vinte euros achada na rua: é minha, que a vi primeiro. Que mulher? Não importa: avistou-a primeiro, é dele.
Nem sequer enxergam a triste figura, banhas apertadas nas t-shirts demasiado justas, cabelo à galã dos anos cinquenta, estilo mestre barbeiro Ti' Jaquim da Burra. Música, voz? Que é isso? Para que é que faz falta? Letra? Um primor. No Afeganistão deve ser um sucesso.
Dir-me-ão: há pior; há muito pior. Pois há.

A história da semana

Pirulito, Rimas e a Associação de Moradores. Uma história falhada, segundo a crítica devastadora do Afonso, o meu neto mais velho: "as histórias para crianças têm poucas letras e imagens muito grandes". Enfim, apeteceu-me escrevê-la, aqui está.

sábado, 24 de março de 2012

Sábado

Com a vaga esperança de que acabe por chover, lá vamos nós fazer mais uma sementeira: feijão Catarino. A história da semana não está esquecida; mas o ar do campo faz-me tombar com sono muito cedo, e a esta hora já só penso na cama, um livro antes de os olhos se fecharem por completo... Amanhã, com uma hora a menos, cá virei pôr a história, ainda nem sei bem qual.

quinta-feira, 22 de março de 2012

Roncadores

Muito se ronca por aí, de um roncar tão antigo que já o Padre Vieira o repreendeu:
ouvindo os roncadores e vendo o seu tamanho, tanto me moveram o riso como a ira. É possível que sendo vós uns peixinhos tão pequenos, haveis de ser as roncas do mar? Se, com uma linha de coser e um alfinete torcido, vos pode pescar um aleijado, porque haveis de roncar tanto? Mas por isso mesmo roncais. Dizei-me: o espadarte porque não ronca? Porque, ordinariamente, quem tem muita espada, tem pouca língua. 
Pois na sua insignificância, estas roncas da terra tomam-se por espadartes, por baleias até, e roncam, roncam, com tal arrogância, tão ruidosamente, que de pouco nos serve tapar os ouvidos, mudar de canal, desligar até a televisão: a todo o lado chega o seu ronco insuportável, roncando como se tivessem o rei na barriga, sentindo-se tão donos da verdade que só a sua voz escutam embevecidos, maravilhados, tomando por inteligência de espírito e por beleza de ideias aquilo que para nós são grunhidos alarves e ignorantes.
Diz o Padre Vieira que "duas cousas há nos homens, que os costumam fazer roncadores, porque ambas incham: o saber e o poder." Eu estou em crer que hoje se ronca sobretudo por poder, sem o qual o ronco que nos submerge como ruído de fundo se reduziria a desprezível chiadeira pífia; porque o roncar de saber, mais tolerável, parece-me, se acaso surge aqui ou ali, anda tão embrulhado em ideias feitas e chavões, tão falho de originalidade, de pensamentos próprios, que dificilmente se distingue da ignorância atroz e só casado com o poder logra fazer-se escutar.

quarta-feira, 21 de março de 2012

Judiarias

Quando se falava de judeus, a minha avó tinha resposta pronta:
-- Os judeus são muito ruins.
Eu estranhava: ela nunca tinha conhecido nenhum: -- Porquê?
-- Ora, mataram Nosso Senhor...
-- Mas, atalhava eu, Jesus também era judeu!
Zangava-se: -- Não sejas herege.

domingo, 18 de março de 2012

Fome de leitura

Uns têm, outros não. Por isso, entendo ser desperdício de dinheiro iniciativas como o Plano Nacional de Leitura. Para mim, o que importa é pôr os livros ao alcance de cada criança, de cada adulto. Se tiverem a paixão da leitura, devorá-los-ão, mesmo que ainda os não saibam ler, como faz o Afonso, aqui a explicar algo às bisavós. Ontem, 17 de Março.

Pelos defuntos

A velhota retira à sua pensão de miséria, já escassa para a farmácia, dez euros para pagar missa por alma do seu defunto; o padre acrescenta o nome do falecido à lista do dia pretendido, não mais de oito nomes, até as missas têm limites de repartição. E por esse acto tão simples, pôr um nome numa lista e pagar dez euros, o defunto beneficiará de mordomias no além, talvez menor tempo de espera no Purgatório, caso a justiça divina seja tão demorada como a portuguesa, ou alívio de pena, caso a justiça divina seja corruptível.
Cá se fizeram, cá se pagam, não ao divino, mas aos seus comissários.
XXI séculos depois de Cristo, como pode a Igreja colaborar nesta farsa, tão contrária aos ensinamentos do seu Mestre, explorando a crendice de pessoas frágeis, carenciadas, pobres entre as mais pobres, estrafegadas pelo custo de medicamentos, taxas moderadoras, custos do transporte para esses hospitais que deslocalizaram para as grandes cidades, aumentos nos transportes, electricidade -- talvez, até, a passarem  fome?

sábado, 17 de março de 2012

O conto desta semana

É uma das histórias de Do lacrau e da sua picada. Um jovem casal, vida provinciana, bovarismo, violência conjugal. Assim escrevia eu uma dúzia de anos atrás. Para os meus fiéis trinta leitores, A menina do shopping, que pode ser lida AQUI.

terça-feira, 13 de março de 2012

Pâmpano

Eis a minha vinha que desperta da dormência invernal e dos troncos nodosos despontam jovens pâmpanos, de onde sairão longas vides, parras, cachos de uvas -- o milagre da Primavera repete-se num ciclo indiferente a secas, crises, querelas políticas. Assim houvera eu de ser, capaz de renascer em cada Março encarnando a Esperança, como se antes nunca tivesse vivido, intactas e inteiras as ilusões da mocidade.

domingo, 11 de março de 2012

Com o João

Passada a gripe, que me deitou abaixo durante quase duas semanas, corro a ver o João; encontro-o muito maior, mais gordo, as peles já cheias. Dorminhoco como de costume.

sexta-feira, 9 de março de 2012

O conto desta semana

Ferido d' Asa, disponível para leitura AQUI.

FOTO: Pedro Perdigão, quando nos conhecemos, ambos mais moços.

quinta-feira, 8 de março de 2012

O conto desta semana

Amanhã publicarei história mais ligeira, já conhecida dos leitores deste blogue: Ferido d' Asa, inspirada em versos que Camões glosou: Perdigão perdeu a pena / Não há mal que lhe não venha. 
Creio que surgiu desta forma: num domingo de Novembro, estava eu a labutar no meu Casal, e por lá passaram, em momentos diferentes, dois caçadores. Eles porque não caçavam nada, eu para endireitar as costas, lá nos pusemos na conversa, discreteando sobre os males do Mundo, da pátria e da agricultura. E uns dias depois, sem que nela tivesse pensado ou me apetecesse escrevê-la, a história veio ter comigo. Coisa rápida, quase sem correcções. 5 pp.

FOTO: no Casal, em farda de trabalho.

terça-feira, 6 de março de 2012

O primeiro voo

Na época, voar não era trivial e poucos se podiam dar ao luxo de o fazer. No meu caso, o meu pai era operário da KLM, a companhia holandesa de aviação, pelo que tinha direito a grande desconto no preço do bilhete. 
A aventura começou bem antes: fui sozinho, já me não recordo como, para Lisboa, e na confusão do aeroporto, balcões, línguas, voos a chegar e a partir, perdi o avião. Soube depois que ainda o tinham atrasado 15 minutos à minha espera. O senhor do balcão, algo preocupado com um miudito de província, enfezadito, catorze anos, escreveu-me um bilhete para apresentar em Schiphol: "Please help mr. Catarino to..."
Passei a noite no café, mesmo ao lado da pista, a ver as descolagens e aterragens dos enormes jactos ali ao lado, por entre o cheiro asfixiante do petróleo queimado. E na manhã seguinte, lá fui a pé com os outros passageiros para o "meu"avião, o tal Super Caravelle, pouco mais do que a camioneta de carreira da minha terra, mas com asas. Falávamos todos uns com os outros como se fôssemos conhecidos, a disfarçar o aperto de estômago quando a subida era cortada por brusca descida, e nova subida, cada vez mais altos...
Estávamos indignados, que na véspera tinham roubado o título ao  Joaquim Agostinho, acusando-o de dopping. Não acreditávamos: ele nem sequer precisava disso, que venceu com mais de uma hora de avanço. Não. Agostinho era humilde, era batalhador, era esforçado, e os poderosos deste país, a começar por essa cambada da federação, invejavam-no, tinham-lhe raiva, desprezavam-no pelas suas origens campónias.
Pouco depois, o almoço. Olhei envergonhado para os talheres, tantos, para que serviriam? E não ousava começar a comer para que se não apercebessem da minha ignorância rústica, quando uma das senhoras riu alto: -- Bom, isto deve servir tudo para o mesmo. Vou usar este mais pequenino, que me dá mais jeito, A tensão desanuviou, cada qual comeu com os talheres com que bem entendeu, mesmo os meus companheiros da classe média lisboeta não estavam habituados a tanto requinte. Deixei-os em Bruxelas e segui já ao pôr-do-sol para Amsterdam, baixinho, sobre os polders onde ainda havia moinhos de vento como nas ilustrações do chocolate holandês, a beber café delicioso.
No aeroporto, não me consegui desembaraçar: o meu Inglês era pobre, o Francês melhor, até que o polícia me pergunta: "Combien de temps vous rendez-vous en Hollande?" Eu puxava pela cabeça, até tinha estudado o verbo rendre no final do 3º período, mas o que significava? E nada me ocorria nem o polícia parecia capaz de encontrar sinónimo. Valeu-me a chegada do meu pai, passaporte na mão.

Fobias

Aí por volta de 1976, ganhei medo de andar de avião. Nada de especial, apenas uma série de mal-entendidos, línguas desconhecidas, a minha imaginação delirante. Já antes tinha voado, a primeira vez num Super Caravelle, uma geringonça fantástica, creio que em 1968; depois disso, voei mais vezes, sempre com desconforto, receoso de explosivos, terroristas, incêndios provocados por fumador na casa de banho. Mas isto é que eu não esperava:

PSP prende fornecedor de droga de estrela da televisãoHoje40 comentáriosJorge Esteves estava sob escuta por crimes violentos, mas acabou por ser preso por fornecer droga a figuras da moda e televisão e também a pilotos da TAP.
(No DN. Negrito meu).

segunda-feira, 5 de março de 2012

Déjà vu

Vou deitando a mão a livros que, na estante, esperam há muito por leitura. Pouca é a paciência, poucos aqueles que sobrevivem ao teste da leitura do primeiro parágrafo.
Le grand cahier, de Agota Kristof (1991), passou no teste. Com uma escrita denotativa, seca, organizado em capítulos titulados de 2 ou 3 páginas, traz até mim o horror de dois irmãos cuja mãe, sem comida na Grande Cidade, deposita em casa da avó, na Pequena Cidade. Num tempo e espaço indefinidos, mas situados no séc. XX, algures na Europa Central, as crianças vão endurecer os corpos e os espíritos para que coisas como amar ou matar lhes não sejam penosas. Obra dura, cruel. Que me deixou com a sensação de que terá influenciado, no estilo e na temática, obras nacionais muito badaladas.

Impaciência

Em reclusão desde sexta-feira, com febre acima dos 39, ainda tentei preencher os momentos em que o Brufene me arranca da sonolência vendo televisão. Não dá: dias e dias a falarem do jogo de futebol que ainda não aconteceu ou já aconteceu; a tentativa constante e acintosa de degradar as relações entre as pessoas -- políticos, dirigentes, ninguém escapa -- com intrigas de comadres baseadas no disse-que-disse; reportagens que se arrastam à porta do local de um qualquer evento, crime, incêndio, etc., a debitar palavreado sem significado e em mau Português. E, pior, a conversa dos dirigentes da oposição que continuam a não querer ver a alhada em que estamos metidos e de que não estão inocentes. Das duas uma: ou isto estoira, e não adiantará dizer depois que tinham razão; ou sobrevivemos, e espera-os uma longa travessia do deserto.
Há um tempo para falar e um tempo para o silêncio. Neste 2012, já tão sofrido, bom seria que nos uníssemos. Não faltará tempo para punir políticas erradas. E Seguro que se deixe de fazer, também ele, o papel de intriguista. Mais do que azedar as relações entre ministros, cabe-lhe apresentar ideias exequíveis, uma política em que demarque o seu partido do governo. Como comadre calhandreira não chega a primeiro-ministro.

sexta-feira, 2 de março de 2012

O conto desta semana

Já está disponível AQUI  a história desta semana: uma jovem professora primária é colocada numa aldeia da serra e em vão tenta mudar o destino que espera os seus alunos.

Tadinho de mim

A gripe deitou-me abaixo. Em vivo ardor tremendo estou de frio. Espero recuperar a tempo de participar no treino de Almeirim de instrutores e avançados, dirigido pelo sensei Vilaça Pinto no próximo domingo. Ou, se não puder participar, pelo menos assistir e almoçar com a rapaziada. 
Cá pela família, isto está mau. Somos quatro engripados, quem está pior é o Afonso, com  febre acima dos quarenta, que não baixa com os medicamentos. Estas novas estirpes parecem muito mais agressivas.
Saúde para todos, especialmente para aqueles que também estão doentes.

quinta-feira, 1 de março de 2012

O conto desta semana

Não é propriamente um conto, embora possa ser lido como tal; é um dos capítulos de uma novela inédita. Custou-me muito a escrever, de tal forma que depois, durante mais de um mês, não consegui escrever nada. Até começa pacífico, com a descrição de uma escola primária de aldeia serrana nos anos 60. Homenagem minha aos professores que mais contribuíram para a nossa formação: os primários. Depois... 4 pp. A ler amanhã.

Objecção de consciência

Sempre disse muito claramente que não iria aplicar o novo acordo ortográfico. Já nem tenho paciência para explicar as numerosas razões desta decisão, tomada em consciência, apesar do risco de vir a ser sancionado. E é inútil lembrarem-me de que antigamente farmácia se escrevia com ph, pois passo muito do meu tempo a ler textos antigos, alguns dos quais  remontam à alvorada da nossa literatura, em finais do séc. XII. 
Diferente foi a atitude de muitos dos meus colegas, uns por, em consciência, concordarem com as alterações propostas, outros, raros, porque sempre correm atrás das modas.
Hoje foi a vez  da Presidente da Associação de Professores de Português sair em defesa do novo acordo em declarações ao DN:

A Associação de Professores de Português (APP) "lamenta" as declarações do secretário de Estado da Cultura sobre possíveis alterações ao Acordo Ortográfico (AO), e considera que se anda "a brincar" com o Ensino.
Em declarações à Lusa, a presidente da APP, Edviges Ferreira, afirmou que "é de lamentar as declarações do secretário de Estado [da Cultura], e também que entre os governantes não haja acordo".
A responsável recordou que "saiu uma portaria do Ministério da Educação, segundo a qual os professores são obrigados a aplicar o novo Acordo Ortográfico a partir do ano letivo 2011/12, a decorrer".
"E agora com que cara vão dizer aos alunos que cada um escreve como entende", questionou a docente.
Edviges Ferreira considerou estarem "a brincar com os professores, alunos, pais, e toda uma comunidade".
Para a presidente da APP as declarações de Francisco José Viegas "destoam da contenção orçamental que nos é exigida", referindo os gastos já feitos com "os manuais escritos já impressos segundo as novas regras" e os que implica a reformulação das regras.
Declaração de interesses: em devido tempo, desvinculei-me da referida associação por entender que não defendia devidamente os interesses dos professores de Português. Este comunicado bem o comprova: afinal, um dos motivos para a rejeição de alterações reside nos custos dos manuais já impressos pelas editoras. Pena não ter denunciado o preço indecente dos manuais escolares, pena não ter avançado com propostas para reduzir o seu custo, purgando-os daquilo que pode ser cortado, o que melhoraria a respectiva operacionalidade. 
Talvez por detrás desta rejeição indignada esteja algo mais profundo e difícil de erradicar: o apego ao eduquês. Que, qual hidra, continua peçonhenta com todas as suas cabeças intactas, quase um ano após a tomada de posse do ministro Nuno Crato-- que, já deu para ver, não é nenhum Hércules.

Ai, estes eufemismos!

Ou a crença de que o termo empregue muda a realidade da coisa:
António Costa rejeita que a Câmara de Lisboa esteja a estudar o surgimento de um bordel na Mouraria, mas admite que foi apresentada uma proposta com vista à criação de “uma safe house” onde, entre outras coisas, as profissionais do sexo se poderiam dedicar a uma “prática segura” da sua actividade. (Ler aqui)
Para evitar a António Costa o recurso a estrangeirismos, sugiro, em alternativa a "bordel", que parece incomodá-lo: lupanar, alcouce, prostíbulo, casa de putas, casa de meninas; ou um dos termos arcaicos "mancebia", " putaria",  "Safe house" não lembra ao diabo, e escandalizaria os egrégios avós.

ADENDA: lembrei-me entretanto de que anos atrás um autarca espanhol, Jesús Gil, creio eu, ganhou umas eleições com a proposta de construir em Marbella um putódromo. Neologismo bem melhor do que safe house.