Plantava couves na minha horta quando chega cavalheiro junto do portão. Se eu era o dono. Confirmo. Ouço-lhe a lengalenga enquanto endireito as costas, limpo com o braço o suor que me escorre em bica da testa: pois ele era do Centro de Recuperação X e...
Interrompi-o: sabe, é rara a tarde em que me não vêm pedir dinheiro enquanto trabalho no quintal; mas nunca ninguém se oferece para me ajudar...
-- Então não quer contribuir...
Voltei às couves. Não é só preparar a terra, estrumá-la, plantá-las, regá-las. É preciso deixá-las protegidas da passarada, das lesmas e caracóis, ou de manhãzinha apenas restarão os talos.
E, enquanto o suor me cegava, ia magicando que muita gente bem intencionada concebe a solidariedade social como via de sentido único, ignorando a reciprocidade que deveria existir entre o receber e o dar. Quanto mais não fosse, por amor-próprio.
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