Herdamos as casas e as terras, os escassos oiros e os trastes abundantes. Os retratos, as fotografias, os papéis. O mau feitio, a apetência pela solidão e pelo silêncio, o gosto pela leitura e pela escrita, a paixão pelo trabalho, pela vida ocupada, cansativa. Os tiques, os ditos, os provérbios e as frases feitas:
-- Não herdamos só os bens, herdamos também os males, dizia a minha mãe, quando, ao avizinhar os oitenta, as doenças a começaram a rondar.
Soube ontem de outra herança sua: tensão ocular elevada. A mesma que, à minha mãe, provocou glaucoma, depois cegueira de um olho e só não do outro porque, entretanto, morreu:
-- Em Julho acaba tudo!
A responsável pelo lar interpretava risonha o dito como vaticínio senil do fim do Mundo. Não, esclareci. A minha mãe, simplesmente, antecipava o seu futuro, sabedora de que na nossa família "Julho é ladrão".
Heranças...
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