-- Vamos pôr o pai ao Seminário, repetia a minha filha mais velha, a Ana, então na adolescência, encantada com o trocadilho. E foi no Seminário do Verbo Divino, em Fátima, que ela e a mãe me deixaram -- para uma semana de treino de karaté, ou algo afim, em regime de internato, sete horas por dia.
No seminário levávamos vida espartana, com hora de recolher, nele comíamos, passávamos como sombras brancas pelos corredores para não ofender com a vista dos quimonos as religiosas que chegavam em revoadas, às centenas, trazidas em camionetas de excursão, cada uma mais feia do que as outras: -- Freiras giras só nos filmes, resumia o meu companheiro de quarto, o Benjamim.
Pois à chegada, logo que deixámos a escassa bagagem nos quartos, saímos em grupo com o mestre, Kenji Tokitsu, então ainda não completamente tomado pela arrogância e brutidade de modos que me levou a abandoná-lo anos depois. No Santuário, conversávamos baixo, procurando não incomodar os fiéis, que mesmo assim nos repreenderam malcriadamente: Chiu! Caluda! E nós retirámo-nos dali, sem mais aquela.
Pois na manhã seguinte tínhamos treino ao ar livre, logo às sete da manhã. O pinhal estava imundo, por todo o lado sacos de plástico, papel higiénico e cagadas, pensos higiénicos até.
Desabafa o japonês: -- Povo estranho. adora a Deus, mas suja a sua obra!
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