Aí pelos meus catorze anos, adoeci. De diferente, desta vez, o estar fora de casa, longe da família, num tempo em que a comunicação se fazia por carta, e o telefone estava reservado para emergências, ligando para o posto da terra e pedindo que fossem chamar alguém — enquanto não chegava, os períodos caíam como a chuva em Dezembro.
Tentei não ligar muito à doença; mas os donos da casa onde estava hospedado insistiram: tens de ir ao médico. Eu recusava. Além do mais, e não o confessava, preocupava-me a despesa, que a magra mesada dificilmente suportava. Adivinhando a causa da minha resistência, ofereceram empréstimo. Com o meu orgulho de fidalgo espanhol pelintra, recusei: não, obrigado, eu tenho. E acabei por ir ao consultório do médico que me recomendaram.
Diagnóstico: papeira. Enquanto passava a receita, o velho médico fazia perguntas de natureza pessoal, adivinhando a minha situação. Sim, era estudante, estava hospedado em Leiria, os meus pais eram emigrantes…
Quando me levantei, Quanto é sr. dr.?
Não percebi a resposta: nada qualquer coisa.
E eu, desorientado: Ah, pago lá fora, à sua empregada?
Homem, desapareça daqui, que estudantes não têm direito a pagar!
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