Eu. Refilão, mal-criado, convencido de que era esperto. Se hoje me encontrasse comigo mesmo, com seis anos, digamos, nem à bofetada me suportava. E era demasiado pequeno para a idade, mesmo naquela época em que as crianças eram muito mais pequenas do que hoje — vejam o Aniki Bobó e digam-me se dão doze, treze anos àqueles garotos.
Pois numa manhã apanhámos a camioneta da carreira para Alcobaça e logo que o revisor chegou,
— Que idade tem o menino.
— Cinco anos, respondeu a minha mãe, a querer escapar ao pagamento de meio bilhete.
— Não tenho nada, tenho seis!
— Cala-te, que não sabes o que dizes!
Na altura, nem bofetadas, sempre bem merecidas, me calavam. Não as levei.
— Não sei o quê? Tenho seis anos, que os fiz no dia 7 de Abril!
A minha mãe, envergonhada a mais não poder ser, pôs-se à minha frente, É só bilhete para mim, o garoto não paga ainda, que só faz os seis anos para o mês que vem.
— Mas ele diz…
— Ora, ele nunca está calado! Quem sabe sou eu, que sou a mãe!
Eu não me calava. E a minha mãe, a ferver, Ah ladrão, cala-te que até te trinco todo!
— Com quê, se anda a arrancar os dentes?
Aliviou a fúria com sonoras gargalhadas. E eu, sentindo-me outra vez sabichão e engraçado, esqueci a teima.
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