Quase acabadas as férias, eis o Verão que finalmente chega, atrasado devido à precessão dos equinócios - pelo menos, foi esta a explicação que há tempos ouvi ao meteorologista Antímio de Azevedo.
Eis um excerto meu bem transpirado:
"Mal saiu do carro, a luz do Sol atingiu-o com a brutalidade de um murro, fazendo-o recuar à procura do refúgio de uma sombra onde repousar a vista; o ar quente envolveu-o como se estivesse à boca de um forno, sufocando-o, enquanto procurava alguém que lhe pudesse dar informações. Vivalma. Fora, apenas avistava casas velhas tremelicando sob o sol a pique de Agosto, luz de fogo, ar de fogo, um ou outro cão deitado numa nesga de sombra. Já tinha ouvido dizer que o interior do país se estava a desertificar, mas só visto, contado é inacreditável. Nem uma fonte, nem um chafariz, já não há mimos desses para os viandantes nas aldeias e vilas de Portugal.
Limpou o suor que lhe corria em bica pela testa, encharcando os óculos de sol, empapando a camisa e colando-a ao corpo e tentou raciocinar: em qualquer aldeia, há sempre uma rua principal e lá há sempre um café. A rua principal era certamente aquela em que se encontrava, atravessando a povoação numa curva larga e ascendente, desde a estação de comboios, deserta a esta hora, até ao casario, mais acima.
Acabou por descobrir um café, graças ao toldo. Precipitou-se para dentro despertando o dono da modorra da sesta e, esquecendo cuidados com álcool e condução, procurou matar a sede que o atormentava, refrescado por lufadas de ar que uma ventoinha enviava intermitentemente na sua direcção. À segunda imperial meteu conversa. Sobre o calor, evidentemente. A televisão tinha dado quarenta e três graus para Santarém, cidade junto ao rio e situada num alto. Para ali, a temperatura devia rondar a de Évora ou mesmo a de Beja, talvez até os 47 graus previstos para a Amareleja. Para todos os efeitos aquele Ribatejo era charneca alentejana. Apostava que não estavam menos de quarenta e dois ou quarenta e três graus à sombra. E com os incêndios, tudo piorava: o ar estava irrespirável, abafado. Se ao menos corresse uma brisa que evaporasse a transpiração... O dono do café concordava: era um calor de rachar pedras.
— Mas o que é que traz cá o meu amigo a esta hora, debaixo deste sol escaldante?"
Do lacrau e da sua picada
Eis um excerto meu bem transpirado:
"Mal saiu do carro, a luz do Sol atingiu-o com a brutalidade de um murro, fazendo-o recuar à procura do refúgio de uma sombra onde repousar a vista; o ar quente envolveu-o como se estivesse à boca de um forno, sufocando-o, enquanto procurava alguém que lhe pudesse dar informações. Vivalma. Fora, apenas avistava casas velhas tremelicando sob o sol a pique de Agosto, luz de fogo, ar de fogo, um ou outro cão deitado numa nesga de sombra. Já tinha ouvido dizer que o interior do país se estava a desertificar, mas só visto, contado é inacreditável. Nem uma fonte, nem um chafariz, já não há mimos desses para os viandantes nas aldeias e vilas de Portugal.
Limpou o suor que lhe corria em bica pela testa, encharcando os óculos de sol, empapando a camisa e colando-a ao corpo e tentou raciocinar: em qualquer aldeia, há sempre uma rua principal e lá há sempre um café. A rua principal era certamente aquela em que se encontrava, atravessando a povoação numa curva larga e ascendente, desde a estação de comboios, deserta a esta hora, até ao casario, mais acima.
Acabou por descobrir um café, graças ao toldo. Precipitou-se para dentro despertando o dono da modorra da sesta e, esquecendo cuidados com álcool e condução, procurou matar a sede que o atormentava, refrescado por lufadas de ar que uma ventoinha enviava intermitentemente na sua direcção. À segunda imperial meteu conversa. Sobre o calor, evidentemente. A televisão tinha dado quarenta e três graus para Santarém, cidade junto ao rio e situada num alto. Para ali, a temperatura devia rondar a de Évora ou mesmo a de Beja, talvez até os 47 graus previstos para a Amareleja. Para todos os efeitos aquele Ribatejo era charneca alentejana. Apostava que não estavam menos de quarenta e dois ou quarenta e três graus à sombra. E com os incêndios, tudo piorava: o ar estava irrespirável, abafado. Se ao menos corresse uma brisa que evaporasse a transpiração... O dono do café concordava: era um calor de rachar pedras.
— Mas o que é que traz cá o meu amigo a esta hora, debaixo deste sol escaldante?"
Do lacrau e da sua picada
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