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domingo, 30 de agosto de 2009

Canícula

"Agora andava na apanha do tomate. Sol a pique, incendiando o céu, e elas, quase só mulheres, empapadas de suor, pó e aquela massa pegajosa de tomate, nas mãos, na cara, na roupa, vermelho por todo o lado, céu vermelho, em brasa, terra vermelha dos tomates rebentados, mais o maldito cheiro adocicado, — Provavelmente nunca mais conseguirei comer tomates. E sempre numa lufa-lufa diabólica, que a tanto obriga o pagamento à caixa, sempre naquela esturra...
Tentam pensar noutras coisas, mais agradáveis, mais frescas, mas parece que até os pensamentos fazem calor e inevitavelmente incendeiam-se como a planície, como o céu, como o Sol. Nem adianta tentar dizer larachas para ajudar a passar o tempo, abrindo a boca entra mais calor. (As chalaças ficam por conta do patrão, à sombra, claro. Este nem é dos piores, ainda faz alguma coisa, ajuda a carregar as caixas, vai descarregar o tractor, que remédio tem ele, a crise da agricultura não é só conversa para conseguir subsídios. É possível que sinta, apesar do incómodo, alguma excitação no meio de tanta mulher, mas nós só queremos acabar o dia, tomar banho e tentar viver, que isto não é vida, é trabalho, do que ainda vai aparecendo, graças a Deus.)"

Do lacrau e da sua picada

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