"Mar — vê-o nitidamente, tal como o avistou do Sítio quando levou o filho Francisco pela primeira vez à praia, teria o moço então uns seis anos. Ah, como lamentava agora o rigor com que tratara a criança, surra em cima de surra, ralhos sobre ralhos, proibições de fazer isto, de andar com este ou com aquele, e nem a desculpa de ter procedido como todos os outros pais, como o seu próprio pai procedera para consigo, lhe servia já de atenuante. (...) Logo, logo, o remorso cede lugar à imagem da água do mar espelhada nos olhos do moço enquanto caminhavam ambos pela beira-mar, os pés finalmente livres das botas que todo o ano os aprisionavam, o perfume da maresia enchendo-lhes o peito, o céu azul cortado pelo voo branco das gaivotas, as sardinhas prateadas palpitando nas redes, a alegria resplandecendo no rosto dos pescadores, como camponeses após abundante vindima — e lamentava novamente todos os momentos desperdiçados por não ter reparado que os dias desfilavam velozmente como os cavalinhos do carrossel na Feira de São Bernardo, sempre correndo, ora subindo, ora descendo, — Mais uma volta! 'Tá a andar! Entravam crianças, saíam adultos, aqueles que de fora olhavam viam apenas rostos e corpos que rodavam, bem agarrados ao cavalo de pau ou rodopiando em banco rotativo, e na vertigem que as voltas causavam, não sabiam já se os velhos que de lá saíam, — O quê, já acabou? Passou tão depressa!, não seriam as crianças que tinham visto pouco antes a entrar..."
Entre Cós e Alpedriz
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