Tenho um queratocone. O suficiente para intrigar os conhecidos, sempre prontos a dar sugestões, na sua vontade de ajudar:
--- Porque é que não vais ao oftalmologista? Porque é que não usas óculos?
--- Porque não vejo com eles.
--- Então é porque precisas de mudar de lentes. Etc.
Mas há mais e pior. Um problema que não me afectava há oito anos voltou --- e sei que se vai repetir, como então aconteceu.
A visão começa a ficar indistinta, turva. Um pequeno ponto brilhante --- e eu digo: cá está esta merda outra vez. No canto superior direito, com os olhos abertos ou fechados, surge, brilhante, uma luz curva zigzagueante, como quando olhamos para o filamento de uma lâmpada de incandescência, as cores decompostas como se luz passasse através de um prisma. Então já vejo pouco e mal. Fecho os olhos. A imagem cintilante permanece entre dez a vinte minutos. Depois alarga, dilui-se, as cores quase se combinam e acaba por desaparecer.
Das primeiras vezes, há um dez anos, consultei, apavorado três ou quatro oftalmologistas. Os quais apresentaram várias hipóteses para o fenómeno, nenhum tratamento: insuficiente irrigação do nervo óptico, prenúncio de dores de cabeça... Convenci-me, então, que teria de conviver com a maleita. Nada fácil: ficar com a visão gravemente afectada ao volante na 2ª circular em hora de ponta, ou numa aula em turma difícil, disfarçando para que me não pressintam fragilizado --- já passei por tudo isto e muito mais --- não é nada bom. Pior é no domingo passado ter recomeçado.
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