Desde 2005 que, com maior ou menor regularidade, vou concorrendo aos raros prémios literários a que posso: uns são para menores de 35 anos, outros para moradores no concelho, nuns anos contemplam a poesia, noutros a prosa, a extensão dos trabalhos, mínima e máxima, nem sempre é compatível com o que tenho para oferecer...
E, salvo a
menção honrosa que muito me honra, nunca o meu trabalho mereceu qualquer prémio. Fosse eu outro, mais susceptível, menos confiante, escrevesse à espera de glória, honrarias, dinheiro, e teria já desistido. Passaram anos desde que tive a pretensão de “assumir-me” publicamente como candidato a prosador; colecciono derrotas, acumulo desinteresse de editores, enfado de críticos – e, uma ou outra o
pinião simpática de escritores, muitas de leitores, que me reforçariam a vontade de continuar a escrever se ela dependesse da opinião de terceiros, o que não é o caso. (Como costumo dizer, escrever não é um prazer, há formas muito mais agradáveis de passar o tempo; é cruz a carregar.)
Esta experiência em derrotas, para além do azedume, sempre útil por dispensar o vinagre no tempero das couves, levou-me formular a seguinte hipótese invejosa, certamente para satisfazer o meu ego:
(1) Santos de ao pé da porta fazem milagres. Por exemplo, na Galiza ganhou ao meu Lacrau, de que muito me orgulho, um galego com uma história sobre um filibusteiro francês que adorava matar espanhóis. Na Amadora, ganhou um estreante, colaborador de jornais locais. No Funchal ganhou uma funchalense, e pela segunda vez. No da FNAC o meu Entre Cós e Alpedriz perdeu para uma tal Bibi com dois élles no apellido – aparenta pertencer a família illustre de jovens pollíticos em carreira ascendente... O mais curioso é que, embora muito me tenha esforçado, nunca consegui ler nada dos felizes vencedores. Com esta excepção:
O Novíssimo Testamento. Graças à blogosfera, tive a possibilidade de encontrar
aqui este excerto, certamente exemplar:
«Djédji nunca fez caca na vida, nem sequer nos cueiros, como todos os nenés, mamou, tomou biberão, sopa na colherzinha, sumo na caneca, comida no prato, mas nunca fez, simplesmente aliviava-se arrotando fatias de luz como lua nova, acocorava-se como uma rã e, por cada coaxar, expelia uma lua, várias luas, que depois se amontoavam no céu como se fossem bolas de sabão, e sempre que o fazia, sobretudo depois das refeições, Djédji punha os cães da vizinhança a uivar como lobos aluados, à parte isso, Djédji foi durante toda a vida um relógio vivo para a comunidade, arrotava sempre na hora e, com o tempo, bastava que os cães começassem a ganir para o capataz anunciar a suspensão da empreitada e a hora da merenda, o sacristão badalava os sinos, no quartel rendia-se a guarda, no chafariz jorrava água das torneiras.»
Estou esclarecido: jamais ganharei o que quer que seja se não escrever histórias de caca. Ah, mas isto vai mudar: da próxima, concorro com
estória em que o Padre Santo sodomiza a guarda suiça enquanto os cardeais literatos batem punhetas a grilos. Até o Nobel (atenção : NÓbéle!) me darão.