Com a despensa vazia, o Velho Défice resolveu ir aos Mercados. Albardou o Pibe, levou consigo o neto Empréstimo para aprender a comerciar. Contentes todos como a madrugada que se abria em luz, cantorias e promessas, por razões diferentes embora: Grandes negócios vamos fazer, e o Velho esfregava as mãos de contente. E o Neto Empréstimo, mais interessado no passeio, caras novas, a antecipar barracas de feira repletas de brinquedos, carrosséis e carrinhos de choque, finge interesse nos negócios: como nos receberão nos Mercados?
Não vês tu este dia radioso, que nos augura negócio vantajoso?
Antes nada dissesse: logo o céu enegrece, vem o vento agreste, esfria o ar matinal, desaba forte temporal. Mau prenúncio.
E uma turista para outra, vinda dessas alemanhas, a pedalar rijo na bicicleta para não ganhar banhas: Coisa estranha esta é! O malandro do Velho folgado a cavalo, o pobre Moço a pé!
Acabrunhado, diz o Velho para o petiz apeado: Troquemos, monta tu o Pibe a cavalo antes que alguma alemoa nos pregue um estalo.
E um loiro, finlandês talvez: Coisa nunca antes vista, a cavalo o rapaz, a pé o pobre velho já incapaz.
Montemos então os dois o Pibe, a ver se essas agências não ralham mais, diz o Velho Défice. Que dirão de nós nos Mercados?, demanda ao Neto, sobrolho carregado.
Que fazeis, desalmados? Ah, não aparecer a Protecção dos Animais! Não vedes que assim o pobre Pibe esmagais?
Apeemo-nos, vamos à pata, que o Pibe siga seu caminho aliviado, até lhe solto a arreata.
Logo, logo, coro de protestos indignados: Coisa jamais vista, Défice e Empréstimo apeados para o Pibe se sentir aliviado!
E o Velho, sempre atento às vozes do Mundo: Levemos então nós o Pibe às costas.
Gargalhadas trocistas de uns deputados socialistas: O Velho Défice agora é avarento e carrega às costas o Jumento! E as moças do Bloco, para lhes não ficar atrás: Uma criança ajoujada sob o peso da montada! Para que quereis tal asno, a que Pibe chamais, se nele não montais, antes às costas o carregais como se fôsseis vós os animais?
E o Velho Défice, sem outras ideias, pergunta-me, como se a sábio se dirigisse: Diz-me tu, ó Zé, que muito estudaste, Que farei com esta montada, Pibe chamada, como contentarei as agências e calarei as vozes do Mundo, que faça o que fizer, me criticam a cada segundo?
E eu opino também: Devias saber, ó Velho, que quem quer ganhar eleições põe-nos o burro sobre o costado. Depois, é bem sabido, é sempre o povo o sacrificado.
José Cipriano Catarino