Eça, que como o Chouriço, personagem da sua A Capital, a sabia toda, dá-nos conta de várias artimanhas utilizadas pelos donos da literatura para aniquilarem potenciais rivais.
Duas delas estão presentes n' Os Maias: todos nos lembramos da crítica feroz do Alencar, que aponta "dois erros de gramática, um verso errado, e uma imagem roubada a Beaudelaire" nos versos do Craveiro -- acusações sempre terrivelmente eficazes, pois poucos arriscam discutir os supostos erros, a medo de serem tomados por ignorantes, e acusação de plágio é coisa feia, que sempre enlameia os visados, mesmo quando injusta; outra, é o velho ataque ad hominem, tão ao gosto nacional: Alencar lança torpe calúnia contra a irmã do poeta rival, "esse caloteiro que se não lembra de que a irmã é uma meretriz de doze vinténs em Marco de Canavezes".
Já em A Capital, o estratagema demolidor usado contra o potencial rival é mais subtil, mas igualmente demolidor: pressentido talento no estreante literário, o patrão da poesia aplaude -- não o drama, mas uma pilhéria involuntária do artista ("estrelados, só ovos") desviando as atenções dos ouvintes, que prontamente esquecem a peça para se gabarem das respectivas habilidades cómicas, uma das quais consiste na imitação do zurrar de um burro no cio...
Outro truque, também presente n' A Capital, consiste em descobrir uma cacofonia -- no verso "nunca cauda mais pura..." logo apontam: "Ca-cau, cacau do Brasil, chocolate..."
Por hoje, fico-me por estes exemplos do Eça, na certeza de que não há nada de novo sob o Sol. Facebook e blogosfera ficam para outra ocasião.
E deixo para reflexão dito de Saramago, numa das suas entrevistas: na literatura ninguém tira o lugar a ninguém...
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