Regresso exausto de três dias nos Montes (Ah! O campo não é um passatempo / Com bucolismos, rouxinóis, luar, escreveu Cesário Verde), a tempo de assistir ao debate entre os pesos pesados, Cavaco e Alegre. Cavaco atacou furiosamente desde o primeiro instante, como se fosse ele próprio o challenger e não o campeão em título; Alegre, calmamente, esquivou, conta-atacou com eficácia, anulou inteligentemente as iniciativas do adversário, chegou ao final do embate sem mostrar cansaço nem ansiedade, embora sem ter conseguido colocar o adversário em dificuldades, encostá-lo às cordas ou, até, beneficiar de qualquer contagem de protecção. Não vi a decisão da arbitragem, mas inclino-me para um nulo, que nem um assalto suplementar resolveria. Porque nulo é aquilo com que ambos esgrimem: Cavaco, com a experiência e a sapiência de quem nunca tem dúvidas e raramente se engana, Alegre, com uma estratégia digna de Tiririca: pior não fica --- e lembrei-me de um missionário que ouvi esta manhã na Praça da Alegria, cujo nome não fixei: há esperança para Portugal desde que os portugueses comecem a trabalhar cá como o fazem lá fora, voltem a poupar como os seus pais o fizeram, e paguem a quem devem. Eis todo um programa político, que eu subscreveria de imediato e em que votaria com entusiasmo. Não ouvi um só destes verbos -- trabalhar, poupar, pagar dívidas -- a nenhum dos candidatos.
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