Sou pouco dado a comemorações, mas esta efeméride é por de mais importante para a esquecer: foi há cinquenta anos que aprendi a ler, tão depressa que nem sei como, e desde então nunca mais parei. Tinha seis anos, vivia em Chaqueda (ou Chiqueda?) há meses, não conhecia lá ninguém, e o meu pai pediu à professora que me deixasse entrar para a escola para não estar sozinho em casa. Antes do Natal, já a professora me punha a ler o jornal à frente dos outros alunos, alguns deles homens e mulheres feitos, eu relezico, meia leca de gente, mas impante desse poder que o saber ler me dava. E à noite, enquanto esperava assustado pelo regresso dos meus pais e a minha irmã, bebé de ano, dormia regaladamente o sono da inocência, eu lia no Diário Popular as anedotas do seu suplemento Ria Connosco (lembro-me de uma que não percebi e me intrigou durante muito tempo com uma sereia), as aventuras de Crispim (nunca mais ouvi falar dessa banda desenhada), o livro de leitura da primeira classe, tudo o que tivesse letras. Hoje, meio século passado sem que me tivesse dado conta, continuo a ler com a paixão inicial -- pois não sou daqueles que, nada lendo, estão sempre prontos a recriminar os jovens por não pegarem em livros...
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