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sábado, 21 de setembro de 2013

Inveja

Como na cantiga alentejana, não invejo quem tem carros, parelhas e montes  —  mas quem escreve bem.
Como o Padre António Vieira:
A primeira maravilha foram as pirâmides do Egipto, a segunda os muros de Babilónia, a terceira a torre de Faros, a quarta o colosso de Rodes, a quinta o mausoléu de Cária, a sexta o Templo de Diana Efesina, a sétima o simulacro de Júpiter Olímpico. E deixando o anfiteatro, de que só se vêem as ruínas, as pirâmides caíram, os muros arrasaram-se, o colosso desfez-se, o mausoléu sepultou-se, a torre sumiu-se, o farol apagou-se, o templo ardeu, e o simulacro como simulacro, desvaneceu-se em si mesmo. 
Veja-se como o autor evita os adjectivos e explora magistralmente a expressividade dos nomes e verbos, a relação entre ambos — e como as repetições, habitualmente tão maltratadas, surgem inevitáveis.  Que inveja! Que lição! 

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